Entrar no ano novo ou entrar novo no ano?...
E é assim que, em vez de procurar compensar alguma falta de autoestima com objetivos fugazes, podemos, intencionalmente, abrir, de dentro para fora, o tesouro que somos e manifesta-lo ao mundo. Não sei se assim vamos mudar o mundo, mas mudamos garantidamente, a nossa vida e a do mundo que nos rodeia
Nunca tinha pensado desta forma, até a Dra Patricia Novick, minha colega na UCSC, reverenda e a líder feminina, ao lado de Martin Luther King Jr., me colocar a pergunta, há uns bons anos. Embora possam parecer semelhantes, as perguntas são muito diferentes. Entrar novo no ano é só para quem tem a coragem e a ousadia de se preparar, fazendo diferente dos anos anteriores. E isso implica uma espécie de luto. Pressupõe que honremos o passado, acolhendo-o, integrando-o e transcendendo-o, para então, co-criarmos o futuro como merecemos. Exige que sejamos a mudança que queremos ver. Que a incorporemos de corpo, alma e coração. E neste processo havemos de querer investir, ainda mais, na nossa versão mais refinada. Por exemplo, desenvolvendo as nossas emoções generativas: o cuidado, a coragem, a empatia, a gratidão, a generosidade, a compaixão… E reconectando os três cérebros: entérico, cardíaco e cognitivo.
O ano novo pode ser um bom momento para reforçar ou definir metas/ objetivos congruentes com o que queremos ver no mundo, com os nossos valores, com aquilo que é importante para nós e que nos faz crescer. Mas sobretudo, é um período de excelência para definir ou revisitar intenções.
É importante distinguirmos objetivos de intenções. Os primeiros focam no resultado a alcançar, assentam em desejos e trazem consigo tensão. Por outro lado, quando falamos em intenções focamos no processo, o que por si só, gera flexibilidade, permite que sejamos criativos, livrando-nos das expetativas. É essencial ter presente que podemos decidir, mas apenas por nós próprios. Fazemos as nossas escolhas, as dos outros, a eles pertencem. Portanto, se quero que as minhas filhas sejam autênticas, a formulação da intenção jamais poderá ser: “Tenho a intenção de que as minhas filhas sejam autênticas.” Essa escolha não pode ser minha, isso é apenas um desejo meu. A única coisa que posso fazer, e a mais importante de todas, é ser modelo de autenticidade. Se elas entenderem, se ressoar nos seus corações, poderão modelar, espelhar, poderão colocar-me todas as perguntas que desejarem sobre como o faço e porquê. Posso mostrar-lhes como vivo e tomo decisões tendo essa intenção presente na minha vida. Portanto, uma intenção é algo que nos orienta. Costumo dizer que definir intenções é ter à mão uma lanterna sempre acesa. Por exemplo: Como quero ser recordado? Que ambiente quero gerar? Como quero influenciar o que me rodeia? Como estou a ser exemplo do que quero ver no mundo?... E claro, as intenções devem ser ecológicas. Ou seja, boas para nós, sem prejudicar terceiros. Uma das minhas intenções é que as minhas escolhas e decisões contribuam para me fazer sentir inteira e autentica em todos os contextos. Com esta intenção clara, simplifico bastante as minhas escolhas e decisões. Mesmo em momentos de indecisão, esta intenção já me dá pistas consistentes e muita luz sobre como pensar, agir e decidir. E se acaso sairmos do caminho? Podemos questionar-nos: Será que estou a agir de acordo com as minhas intenções? O que posso fazer para me alinhar com elas? E mesmo que não estejamos sempre alinhados com as nossas intenções (que não estamos, somos humanos, logo imperfeitos nas nossas perfeições), está tudo bem. A verdade é que sempre que tivermos esta consciência, voltamos mais rapidamente às nossas intenções e somos invadidos de uma sensação imensa de gratidão e vontade de continuar. Porque a vida não é sobre perfeição, é sobre conexão.
Co-criar 2023
Partilho algumas questões para refletir, ganhar consciência, alinhar intenções, objetivos e agir. Quando respondidas com honestidade, ajudam e muito, a desenhar um ano novo, intencional e positivo:
Onde estou? Onde quero estar?
2022: Qual foi a lição mais importante?
O que fiz e me orgulho de ter feito?
O momento alto de 2022?
O que deixei por fazer?
Os maiores desafios?
O que faria diferente?
As pessoas que conheci e quero manter na minha vida?
Em 2023 vou fazer:
Menos...
Mais...
O quero deixar em 2022...
O que quero levar para 2023...
Lugares que quero visitar...
Coisas em que quero melhorar...
Coisas novas que quero experimentar...
Livros que vou ler...
Decisões que vou tomar...
A direção que quero dar à minha vida...
Os meus maiores sonhos e visões...
Como vou ser disso exemplo?
E neste caminho havemos de saber maravilhar-nos com o que até aqui nos era estranho, praticar a mente de principiante, numa permanente atitude de aprendizagem e amar todos os dias, um dia de cada vez. Só assim tem sentido.