Mais duas ONG suspendem actividades no Afeganistão após proibição de mulheres
Mais duas organizações não-governamentais (ONG) - Christian Aid e ActionAid - anunciaram hoje a suspensão das atividades no Afeganistão, depois de os talibãs terem proibido as mulheres de trabalharem em estruturas humanitárias.
Com os anúncios de hoje, sobe para seis o número de ONG que suspenderam as respetivas atividades em território afegão.
"A ActionAid tomou a difícil decisão de interromper temporariamente a maior parte dos seus programas no Afeganistão" até que a situação se esclareça, anunciou a ONG em comunicado.
Criticando a "erosão gradual" dos direitos das mulheres no Afeganistão, a ActionAid, com a qual trabalham 97 mulheres no país, denunciou as "consequências devastadoras" da decisão dos talibãs.
"As mulheres são essenciais para qualquer operação de ajuda humanitária", especialmente no Afeganistão, onde "só as mulheres podem interagir com as mulheres", explicou a ONG.
De acordo com as Nações Unidas, mais de metade dos 38 milhões de habitantes do país precisam de assistência humanitária durante o rigoroso inverno.
Também a Christian Aid anunciou que procura "rapidamente obter esclarecimentos" sobre este anúncio dos talibãs e "exorta as autoridades a inverter esta proibição", disse o chefe da organização para esta região, Ray Hasan, num comunicado.
"Proibir as mulheres do trabalho humanitário apenas reduzirá a nossa capacidade de ajudar o crescente número de pessoas necessitadas e piora a terrível crise humanitária que mulheres e meninas enfrentam", explicou.
"Além disso, esta decisão irá perturbar profundamente as famílias que dependem do salário de trabalhadoras humanitárias no contexto da grave crise económica no Afeganistão", acrescentou o representante.
A Christian Aid indicou ainda que milhões de pessoas estão "à beira da fome" no Afeganistão, com relatos de famílias "tão desesperadas que foram obrigadas a vender os filhos para comprar comida".
No domingo, três ONG - Save the Children, Norwegian Refugee Council e CARE International - anunciaram conjuntamente a suspensão das suas atividades. O mesmo aconteceria com o Comité Internacional de Resgate (IRC).
O Ministério da Economia afegão ordenou no sábado que todas as ONG parem de empregar mulheres, correndo o risco de ver a sua licença operacional suspensa.
O ministério argumentou que tomou a decisão depois de receber "sérias reclamações" sobre o não cumprimento do uso do 'hijab' (véu islâmico) imposto no país.
A decisão sobre as ONG do governo talibã segue-se à proibição de as mulheres frequentarem o ensino superior.
Os talibãs retomaram o poder em agosto de 2021, após a retirada de uma força internacional liderada pelos Estados Unidos que esteve no Afeganistão durante 20 anos.
No seu primeiro governo (1996-2001), os talibãs baniram as mulheres da educação e dos espaços públicos e proibiram a música, a televisão e muitos desportos.