Madeira

Natal na Madeira, coração na Ucrânia

Guerra começou há precisamente 10 meses. Foi a 24 de Fevereiro. Família ucraniana mudou-se para a Madeira há mais de uma década, tem filhos nascidos cá, mas o testemunho é impressionante e emotivo. "Estamos unidos e vamos vencer", diz Tetyana Banakh

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Tetyana e Pavlo Banakh mudaram-se para a Madeira há mais de uma década. São ucranianos. Têm dois filhos, Sofia e André, ambos nascidos na Região. Mas este é um Natal diferente. A guerra não dá tréguas. Começou a 24 de Fevereiro. Faz hoje 10 meses, precisamente. "A situação com a guerra é angustiante", diz Tetyana, em conversa com o DIÁRIO, antes de sublinhar o orgulho na pátria. "Todos os ucranianos estão unidos e acreditam na vitória".

"Os meus pais vivem na zona ocupada pelos russos"

A voz emotiva não deixa esconder a preocupação. "Os meus pais vivem na zona ocupada pela Rússia, em Lugansk. O meu pai está doente, mas a minha mãe está a cuidar dele e a minha irmã, que ficou lá, também ajuda. Eles não têm como sair, só podem esperar pela chegada das tropas ucranianas para libertar a região", lembra Tetyana. Faz pausas no discurso. A emoção toma conta. É natural. Mas a esperança não se apaga, mesmo perante as imagens que todos os dias chegam a casa pela televisão, já lá vão 10 longos meses. "Com a ajuda de Deus, vamos passar esta situação. A verdade vai vencer e a verdade está do nosso lado, do lado ucraniano, precisameos do apoio do resto da Europa e da América". diz, em jeito de apelo, quem tem família no centro do conflito armado.

Mesmo com a angústia que só quem passa por uma situação como esta pode testemunhar, a família Banakh estreita laços sem nunca esquecer, em momento algum, os que estão a sofrer na terra natal. "A minha sogra está cá na Madeira, vem passar o Natal e o Ano Novo connosco", diz Tetyana. "Temos outros familiares lá, vamos falando quase sempre, pelo WhatsApp e procuramos acompanhar a situação diariamente", reforça. "Nós adormecemos com notícias da Ucrânia, acordamos com notícias da Ucrânia e, claro, quando sabemos dos ataques é uma dor no coração, ficamos angustiados e preocupados".

Tradição contempla 12 pratos

Esta família assinala duas datas. De 24 para 25 de Dezembro o Natal Católico e de 6 para 7 de Janeiro o Natal Ortodoxo. "É o nosso", sublinha Tatiana. A tradição do Natal na Ucrânia contempla 12 pratos: massa com recheio, cutia (uma espécie de papa com trigo, cravo, nozes e mel), peixe, couve branca estufada, molho de cogumelos ou uzvar (compota de frutos secos) são algumas das iguarias à mesa. Mas o coração está lá, na Ucrânia, num misto de angústia e esperança. Esperança de ver chegar ao fim esta maldita Guerra.