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Incidentes entre manifestantes curdos e polícia após tiroteio mortal em Paris

Confrontos entre protestantes e a polícia francesa após a conferência de imprensa do ministro Gerald Darmanin
Confrontos entre protestantes e a polícia francesa após a conferência de imprensa do ministro Gerald Darmanin
, EPA/TERESA SUAREZ

A polícia francesa utilizou gás lacrimogéneo para dispersar manifestantes curdos junto a um centro cultural curdo no centro de Paris, diante do qual um homem matou hoje três pessoas, noticiou a agência de notícias francesa AFP.

Os incidentes começaram quando a multidão se deparou com um cordão de agentes policiais que protegiam o ministro do Interior francês, Gérald Darmanin, que ali se deslocou para avaliar o andamento da investigação e dirigir-se à imprensa.

Um cidadão francês de 69 anos, com antecedentes criminais por ataques racistas e que tinha saído da prisão no dia 11 deste mês, depois de ter atacado um acampamento de imigrantes, foi o autor do assassínio hoje de três curdos nas imediações de um centro cultural daquela comunidade na capital francesa, num tiroteio que também fez três feridos.

Um dos feridos encontra-se em estado crítico, segundo as autoridades.

O autor do massacre, um ferroviário reformado, tinha acesso a armas por fazer parte de um clube desportivo de tiro e não pertencia a qualquer grupo de extrema-direita, indicou o ministro do Interior francês.

"Os curdos de França foram alvo de um odioso ataque no coração de Paris. Os meus pensamentos estão com as vítimas, com as pessoas que lutam por sobreviver, as suas famílias e amigos", indicou na rede social Twitter o Presidente da República francês, Emmanuel Macron, prestando homenagem às forças de segurança "pela sua coragem e o seu sangue-frio".

O ataque provocou uma grande comoção na comunidade curda de França, que se prepara para assinalar o 10.º aniversário do assassínio de três dos seus ativistas, a 10 de janeiro de 2013, por um radical turco que os executou com um tiro na nuca.

Esse crime ocorreu muito perto da rua Enghien, no central 10.º bairro de Paris, em que está muito arreigada a comunidade curda da cidade e onde se situa o centro cultural que foi cenário do massacre de hoje.

Segundo testemunhas oculares, por volta do meio-dia (11:00 de Lisboa), uma pessoa aproximou-se do local, sacou de uma arma e começou a disparar sobre as pessoas que ali se encontravam.

Duas pessoas morreram à porta do centro cultural e uma terceira num restaurante próximo, onde o autor do tiroteio se dirigiu antes de se refugiar num cabeleireiro próximo, onde foi manietado pela polícia.

Segundo o Conselho Democrático Curdo em França (CDKF, na sigla em francês), as três vítimas mortais, dois homens e uma mulher, são curdas e membros daquela associação.

Gérald Darmanin confirmou, no local, que, segundo os primeiros elementos da investigação, o autor do tiroteio tinha como alvo imigrantes, embora tenha acrescentado que não se pode ainda precisar se se tratava só de imigrantes curdos.

O ministro do Interior francês indicou que os seus serviços não tinham identificado uma ameaça particular contra aquela comunidade, mas anunciou que reforçará a segurança nos seus centros enquanto a situação é analisada.

Disse também que o autor do tiroteio não estava sinalizado por radicalização, embora tenha confirmado que tinha antecedentes criminais por atos racistas.

O último deles foi cometido em finais de 2021, quando atacou com um sabre um acampamento de tendas de campanha de imigrantes subsaarianos instalados numa rua do 12.º bairro de Paris.

Aqueles factos valeram-lhe um processo judicial e a medida de coação de prisão preventiva enquanto aguardava julgamento, da qual saiu no passado dia 11, sob controlo judicial, por ter passado um ano atrás das barras - o tempo máximo de prisão preventiva que a lei francesa prevê para esse tipo de crime.

Anteriormente, o homem tinha cometido outros ataques racistas nos arredores da capital francesa.

Hoje ferido durante a sua detenção, o autor do tiroteio com três vítimas mortais será interrogado nas próximas horas para tentar apurar o móbil do seu crime.

A Procuradoria Antiterrorista aguarda esse interrogatório para determinar se se tratou ou não de um atentado terrorista.

Por enquanto, a investigação centra-se nos crimes de homicídio, tentativa de homicídio, violência voluntária e violação da legislação de porte de armas, indicou a procuradora do ministério público de Paris, Laure Beccau, que também se dirigiu ao local do ataque.