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Empresas podem ficar sem acesso a matérias-primas devido a greve nos portos

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A Associação Portuguesa dos Industriais de Alimentos Compostos para Animais (IACA) avisou hoje que a greve nos portos poderá deixar as empresas sem acesso a matérias-primas, o que pode levar a roturas de 'stocks' para a pecuária.

"Face aos mais de 10 dias de greve anunciados, a IACA estima que as empresas ficarão sem acesso a matérias-primas que garantam a continuidade da produção", notou em comunicado a associação, sublinhando que pode mesmo verificar-se uma rotura nos 'stocks' a disponibilizar aos produtores pecuários.

O Sindicato Nacional dos Trabalhadores das Administrações Portuárias (SNTAP) convocou uma greve de vários dias, que começa hoje e se prolonga até 30 de janeiro e abrange os portos do continente, Madeira e Açores.

O sindicato acusa as administrações portuárias de "ausência total de disponibilidade" para dialogar sobre a proposta de revisão salarial para 2023, tendo o SNTAP feito "vários pedidos de reunião" que ficaram sem resposta, "nomeadamente por parte das administrações de Sines e de Lisboa".

De acordo com a IACA, a greve nos portos deixa oito navios de matérias-primas para alimentação animal com atrasos nas descargas, podendo os custos adicionais para as importadoras ascender a dois milhões de euros até janeiro, agravando o preço dos alimentos.

A sobre-estadia dos barcos pode levar os custos das empresas importadoras a ultrapassar um milhão de euros até ao final do mês, valor que pode duplicar em janeiro.

Neste sentido, a IACA está preocupada com a repercussão destes custos no preço das matérias-primas para a produção de rações de animais.

A associação referiu que, em Portugal, as empresas produtoras de alimentos compostos para animais têm uma dependência de matérias-primas importadas de 80% e uma capacidade de armazenamento de cerca de cinco dias.

"Prevê-se que um dos portos mais afetados seja o da Trafaria, por onde passam as principais matérias-primas usadas na produção de rações para animais", referiu, sublinhando que cerca de 60% do milho e 50% da soja utilizada na produção de rações entra em Portugal através do porto da Trafaria.

Citado no mesmo documento, o secretário-geral da IACA, Jaime Piçarra, lamentou que não tenham sido previstos serviços mínimos, apesar das preocupações enviadas ao executivo.

Para a IACA, "a inação do Estado" pode criar problemas a esta indústria, bem como colocar em causa a disponibilidade de carne, leite e ovos.

"As empresas já estão tão sobrecarregadas de custos inflacionados que, naturalmente, vão repercutir este novo custo na cadeia de valor, situação que, inevitavelmente, vai chegar ao consumidor", disse Jaime Piçarra, acrescentando que o setor não prevê "o melhor para o início do ano".