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2023: tempo de agir!

Os dados do Censo de 2021 já se encontram disponíveis, por isso aproveito esta época natalícia para fazer uma reflexão entre o tempo da minha infância e os dias de hoje. Começando pelo número total de residentes, Portugal, com 10.343.066 residentes, tem em 2021 mais 1.453 .674 habitantes do que em 1960, ou seja, Portugal em 60 anos teve um aumento de população de 16%. Lembro-me de Lisboa, onde nasci, com muito menos pessoas do que tem hoje, o que os números confirmam porque a população da Área Metropolitana de Lisboa quase que duplicou de cerca de 1,5 para quase 3 milhões de habitantes. No entanto, para quem nasceu na Região Autónoma da Madeira, a perceção deve ser diferente porque o número de residentes diminuiu entre 1960 e 2021, cerca de 7%. Esta diferença de evolução leva-me a tentar imaginar o que seria a RAM se a sua população tivesse evoluído como o todo nacional ou como Lisboa… não tenho dúvidas que não teríamos a mesma qualidade de vida que temos atualmente, nem o ambiente estaria tão bem conservado como conseguimos que esteja. Deste modo, parece-me que é altura de se refletir sobre qual a população ideal para cada território antes de aceitarmos que a população estar a crescer é bom e, em contrapartida, estar a diminuir é mau.

Olhemos agora para o número de crianças e jovens até aos 14 anos. Portugal perde de 1960 a 2021 metade das crianças e jovens passando de cerca de 2,6 milhões para pouco mais de 1,3 milhões. Neste indicador existe uma diferença significativa entre a Área Metropolitana de Lisboa e o todo nacional pois nesta região o número de crianças e jovens não decresceu, até aumentou cerca de 90 mil, ou seja, um aumento percentual de quase 30% em 60 anos (note-se que o concelho de Lisboa reduziu a sua população de crianças e jovens até 14 anos para metade sendo os aumentos verificados nos outros concelhos da sua área metropolitana). A RAM apresenta uma diminuição ainda mais significativa do que o todo nacional passando de 90 mil para pouco mais de 30 mil crianças. Novamente temos evoluções muito diferenciadas entre as diferentes regiões o que me leva a concluir que as soluções devem ser a nível local porque não me parece que possa haver uma solução única para o todo nacional.

Se considerarmos a população com mais de 65 anos verificamos que houve um grande aumento do seu número, tendo mais do triplicado no todo nacional e quase triplicado na RAM.

Passámos de uma sociedade, onde em 1960, havia um jovem com menos de 14 anos por 4 habitantes e um idoso com mais de 65 anos por cada grupo de 12 habitantes para 2021 onde é preciso ter um grupo de mais de 7 habitantes para encontrarmos um jovem e basta ter um grupo de 5 habitantes para entre eles estar um idoso. Na RAM a evolução dos jovens ainda é maior pois em 1960 bastava ter um grupo de 3 habitantes para um deles ser jovem.

Perante estes números e a sua evolução provável temos que “pensar fora da caixa” para encontrar respostas e implementarmos soluções para uma sociedade que já não é o que era. Muito há a fazer… por exemplo, pensar qual a população necessária para elevar a qualidade de vida de todos sem comprometer a qualidade territorial, ambiental, social, educativa e de todos os sistemas. Nada pior do que ver um País preocupado em aumentar a população sem qualquer planeamento estratégico e assistirmos, como temos visto na TV, ao desmoronar dos sistemas de saúde e da educação entre outros, cuja capacidade, em alguns casos, de manter uma qualidade aceitável é um grande desafio.

Deixo em jeito de presente de Natal estas reflexões, com os votos que em 2023 não se continue a adiar.