Oposição venezuelana dividida sobre continuidade do "governo interino" de Juan Guaidó
Vários partidos opositores anunciaram publicamente que não apoiam a continuidade do "governo interino" do líder Juan Guaidó, que em 2019 jurou assumir as funções de presidente interino da Venezuela até afastar Nicolás Maduro do poder.
O anúncio levou outro setor da oposição venezuelana a acusar esses partidos de quererem "legitimar" o Governo do Presidente Nicolás Maduro e o próprio Juan Guaidó a convocar uma sessão extraordinária do parlamento opositor (que não reconheceu as eleições presidenciais de 2018 nem as legislativas de 2020 e declarou que continua em funções) para esta quinta-feira.
A negativa a dar continuidade ao "governo interino" foi anunciada por três dos principais partidos opositores, Ação Democrática (AD), Um Novo Tempo (UNT) e Primeiro Justiça (PJ) que, segundo a imprensa local, querem também eliminar os documentos aprovados pela oposição, exceto os que estão relacionados com a defesa da democracia e proteção dos ativos venezuelanos no estrangeiro, as liberdades, garantias constitucionais e de direitos humanos, e a realização de eleições livres, justas e verificáveis.
Numa conferência de imprensa em Caracas, o ex-candidato presidencial e dirigente do partido opositor Primeiro Justiça, Henrique Capriles Radonski, acusou Juan Guaidó de chantagear os parlamentares opositores para aprovarem, por mais um ano, o "governo interino" e reformar "o estatuto de transição", apesar de a oposição ter falhado na sua estratégia.
A favor da continuidade do "governo interino" está o deputado Ismael Garcia, que acusou "um grupo reduzido de deputados, com fins inconfessáveis, de pretender entregar toda a legitimidade a Nicolás Maduro" e de querer garantir que seja reconhecido como único Governo da Venezuela.
"Com esta pretensão vão entregar a cabeça de Juan Guaidó numa bandeja de prata a Nicolás Maduro", disse aos jornalistas.
Entretanto, num comunicado divulgado pela equipa de Juan Guaidó, o líder opositor explica que o objetivo de convocar uma "sessão extraordinária" da oposição para quinta-feira tem como propósito conseguir "o consenso sobre prolongar a vigência do Estatuto de Transição que rege o governo encarregado".
"A transição à democracia passa pelo restabelecimento da ordem constitucional, assim como pelo resgate da soberania popular através do voto e da realização de eleições livres. Também se requer inverter a emergência humanitária complexa que a Venezuela atravessa, as garantias constitucionais e de direitos humanos", explica o documento.
A crise política, económica e social na Venezuela agravou-se desde janeiro de 2019, quando o então presidente do parlamento, o opositor Juan Guaidó, jurou publicamente assumir as funções de governo interino do país, até afastar Nicolás Maduro do poder, convocar um governo de transição e eleições livres e democráticas no país.
Segundo diversas ONG e organismos internacionais, nos últimos cinco anos, mais de sete milhões de venezuelanos abandonaram o país, fugindo da crise política, económica e social que afeta a Venezuela.