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Quantos madeirenses esperam por um Natal com saúde?

E os 80 mil madeirenses à espera de um médico ou de um enfermeiro de família?

Todos os anos, os orçamentos regionais reservam milhões de euros para a área da saúde, são programas de recuperação de cirurgias, reforço de medidas, agilização de redes de intervenção, digitalização do setor, entre outros números que enchem os discursos de propaganda do governo.

Não obstante, a realidade, a vida concreta de todos os dias demonstra que os números difundidos pela cartilha laranja, as políticas e os milhões para a saúde não têm solucionado os problemas deste setor estratégico do nosso desenvolvimento. Continuamos a assistir a milhares de madeirenses que não conseguem ter acesso aos cuidados de saúde a que têm direito.

Quem tem acesso, a pessoa que consegue uma vaga e entra no sistema público, temos a certeza de que é tratada e acompanhada por profissionais competentes e dedicados, sem qualquer dúvida. O problema encontra-se em todos os que não têm acesso ao sistema público de saúde. Estamos a chegar ao Natal e milhares de madeirenses continuam, há anos, esquecidos numa lista de espera.

Em 2015, havia quase 64 mil atos médicos em lista de espera, em 2022 duplicaram, ultrapassam já os 118 mil atos médicos. São vidas adiadas, são rostos que esperam, em desespero, pela resolução do seu problema de saúde, que anseiam por um telefonema do SESARAM a informar que chegou a sua vez de serem atendidos.

Só na ortopedia, por exemplo, existem quase 6 mil madeirenses à espera de uma primeira consulta e quase 4 mil a aguardarem por uma cirurgia. E se alargarmos a outras especialidades, registamos 30 mil nas consultas, 18 mil nos meios complementares de diagnóstico e 20 mil noutras cirurgias. Estes cidadãos não terão um Natal cheio de saúde.

A área da saúde está regionalizada, estamos cansados de desculpas, a Autonomia foi conquistada para servir os madeirenses e garantir a nossa qualidade de vida.

Tendo em conta as dificuldades sociais e a política de baixos salários praticada na Madeira, torna-se evidente que milhares de madeirenses não possuem condições económicas para recorrerem a uma clínica, a um hospital privado ou a um consultório privado. Quantos madeirenses, a maioria idosos, para não ficarem cegos à espera que o Serviço Regional de Saúde responda a tempo, têm 1800 euros, de cada vez, para se submeterem a uma cirurgia às cataratas, numa clínica privada?

Como durante a discussão do Orçamento, o governo não quis responder nem explicar, volto a perguntar:

E os 80 mil madeirenses à espera de um médico ou de um enfermeiro de família? E a situação de, em 2021, a Região ter tido a taxa de mortalidade infantil mais alta do país? E a recorrente falta de medicamentos na farmácia hospitalar? Alguns casos contam com 3 meses de espera, surgiram notícias a indicar que faltaram 378 remédios na farmácia hospitalar, alguns a atrasar tratamentos oncológicos. E o estado de quase metade das ambulâncias do SESARAM que se encontram avariadas? E a estratégia regional para resolver as quase 100 altas problemáticas ainda internadas nos serviços de saúde?

Os madeirenses desejam um Natal com saúde, mas quando?