O que importa, os que importam
Este é para mim também tempo de reflexão. Não que precise de chegar aqui para o fazer
O mês de Dezembro é o meu preferido em todo o ano. Consegue até superar o “meu querido mês de Agosto” que o cantor Dino Meira eternizou numa canção e que acolhe também o meu aniversário. Aliás, só razões muito fortes conseguem fazer com que possa privilegiar uma época fria ao tempo mais quente, eu que sempre fui um friorento e procuro invariavelmente refugiar-me no calor. E é assim só porque tive a sorte de ter uma infância feliz, integrado numa família unida, onde os Natais eram sempre sinónimo de casa cheia, de muitas conversas e risada, cheio de amor, de carinho, proximidade, presentes e mesa farta. Infelizmente, sei que nem todos tiveram essa experiência mas eu sempre que entra este mês começo a sentir no ar um espírito diferente, não sei se serão os meus olhos mas parece-me que as pessoas se tornam um pouco mais solidárias e menos egoístas. Sempre fui da partilha e dos encontros e adoro que nesta altura todos façam um esforço para estarem mais juntos, amigos que se encontram, famílias que se reúnem muitas vezes com gente vinda de várias partes. Nós somos pouco para além disso, das relações que mantemos, dos que nos fazem falta ou que nos dão um significado especial à nossa vida.
Este é para mim também tempo de reflexão. Não que precise de chegar aqui para o fazer mas acho que até o tempo ajuda. O frio é mais profundo, o calor mais instantâneo. Essas reflexões são sempre o reflexo do que se passou durante o ano, das dificuldades e conquistas, das alegrias e tristezas. Este ano a minha vai para o que realmente importa. Os que me importam e os que se importam comigo.
O que importa. Porque há medida que os anos vão passando vamos dando maior importância ao tempo e ao valor que o mesmo tem. Torna-se por isso cada vez mais essencial percebermos o que verdadeiramente importa para nós e dentro do que importa aprender a desvalorizar o que não importa ou não tem valor. Muitas vezes por mesquinhice, por orgulho, inveja ou casmurrice gastamos demasiadas energias com o que não interessa absolutamente nada. Sim, sim, nós temos esta estúpida capacidade de invejar até o que nunca quisemos. É por isso, absolutamente decisiva a capacidade de criarmos em nós o discernimento para nos desgastarmos com o que importa, o que nos faz falta e os que nos fazem falta. Focarmo-nos em viver momentos perfeitos e em procurar simplificar a vida em vez de estarmos sempre a olhar para o lado, para o que os outros fazem, ou dizem ou têm que nós não temos.
Os que nos importam. São esses que merecem a nossa atenção e o nosso cuidado. Quantas vezes não baralhamos tudo? Não damos a quem se está nas tintas para nós e deixamos no banco quem está ali por nós? É muito importante não perdermos tempo com quem não interessa, nem sequer darmos valor ao que dizem ou ao que fazem. As pessoas conseguem por vezes ser muito más, fazem coisas intencionalmente para nos magoar, dizem para nos ferir. Mandar para baixo. Esses não podem ter espaço, nem esses nem os que nos empatam e que passam o tempo todo a falar deles próprios sem disponibilidade para ouvir. Ainda no outro dia encontrei um antigo colega de faculdade com quem me dava e com quem não estava há muito tempo. Demos um abraço e prometemos que tínhamos que combinar algo em breve para não passarmos tanto tempo sem nos ver. Daí a uma semana fomos jantar. Eu que gosto de refeições longas e de boas conversas passei o tempo todo a olhar para o relógio e nem pedi café para me pirar rapidamente dali. Passou o jantar inteiro a falar dele, do seu sucesso, das mulheres com quem esteve, dos carros e das viagens. Não parou um minuto para perguntar “então e tu? Como estás?”. Rapidamente percebi porque é que não estava com ele há tanto tempo e pus-me ao fresco ainda não estávamos sentados há 45 minutos. Perdemos parte da vida com gente que não nos acrescenta nada e os outros, os que estiveram sempre ali, damos por adquiridos e só lá vamos quando ficamos sozinhos e precisamos de um ombro para chorar.
Os que se importam connosco. Esses são os que merecem tudo e não estão à procura de nada. São os que contam, os nossos. Como costuma dizer um amigo meu, são “os da nossa praia”. Aqueles que parecem adivinhar quando estamos na merda, que nunca se aproveitam do nosso sucesso e ficam na sombra a aplaudir. Que não procuram a primeira fila nem os holofotes. Que não se encostam mas nos oferecem permanentemente encosto. Que não pensam só neles mas pensam em nós também. Às vezes até mais do que neles próprios. Os que nunca nos deixam sozinhos e que arranjam sempre tempo para nos ajudar quando estamos aflitos. Os que não arranjam desculpas e são felizes com a nossa felicidade. Que gostam de nos ver bem. A vida são esses, os que permanecem. A magia surge quando estão por perto, os outros são apenas espuma efémera que nos ilude, engana e nos faz sofrer, mais cedo ou mais tarde percebemos isso.
Desejo-vos um feliz Natal, que vos traga o que vos importa, com quem é importante para vocês e para quem vos dá valor.