Artigos

Prioridades trocadas

Na discussão do orçamento regional para 2023, a Madeira parecia o mundo da “Alice no País das Maravilhas”

2022 está a acabar. Um ano difícil para todos. Aumentaram os preços dos bens e serviços e as taxas de juros. E para 2023, as perspetivas não são as melhores.

Face a este panorama, esperava-se mais e melhor da Assembleia da República e da Assembleia Regional. Esperava-se que se debruçassem mais sobre medidas de apoio à sociedade portuguesa para fazer face a esta crise. Que se discutissem medidas eficazes à recuperação das empresas e ao desenvolvimento do tecido empresarial português, à promoção do emprego, à diminuição do impacto do aumento generalizado de preços e que se pensasse em mais apoios extraordinários aos reformados e pensionistas com pensões mais baixas, com especial atenção àqueles que estiveram na guerra colonial.

Infelizmente, parece-me que as prioridades estão trocadas. Agora está na moda falar-se na lei da eutanásia. Preferia que antes desta discussão se melhorassem os cuidados de saúde paliativa, se melhorasse o sistema de saúde, de forma a reduzir consideravelmente os tempos de espera para a resolução dos problemas de saúde e se disponibilizassem atempadamente cuidados de saúde de modo a travar a evolução de determinadas doenças. O tempo é determinante para conseguirmos salvar uma vida humana. Por isso, não me venham com conversas de que se reduziram tempos de espera e aumentaram o número de operações realizadas. Ainda bem que o fizeram, mas temos de ter a capacidade de melhorar ainda mais para conseguirmos aumentar as probabilidades de salvar vidas humanas.

Em muitos casos, com uma melhoria na organização do serviço aumenta-se exponencialmente a capacidade de resposta aos problemas existentes.

Todos sabemos que a pandemia, o isolamento, a situação económica vivida por muitos e as notícias da guerra criaram muitos problemas de saúde mental nas pessoas. Isto para não falar no aumento das dependências. Como estão organizados os serviços para dar apoio a estas pessoas completamente vulneráveis? O sistema tem de ser ágil na resposta sob pena de arrastarmos seres humanos para a exclusão social.

É preciso ter consciência que o maior valor do sistema de saúde são as equipas médicas e de enfermagem que intervêm para salvar a vida humana. Mas não podemos esquecer todos os outros profissionais cujas funções garantem o bom funcionamento da instituição e da desinfeção dos locais de prestação de serviços de saúde. É um trabalho de equipa. Não podemos esperar pela conclusão do novo hospital para resolver todos os problemas. A intervenção atempada é fundamental para salvar vidas.

Na discussão do orçamento regional para 2023, a Madeira parecia o mundo da “Alice no País das Maravilhas”. Como é possível tanta maravilha quando no nosso dia-a-dia conhecemos situações em que as instituições não dão resposta aos problemas das pessoas?

Também não entendi como é que perante a presença da Secretária da Inclusão Social e da Cidadania, ninguém questionou a má adaptação à Região da Lei Nacional de apoio aos cuidadores informais. Em todo o território português é permitido aos pais das crianças e jovens com deficiência até aos 18 anos receberem este apoio. A Madeira é a única Região do país em que isto não ocorre simplesmente por um erro jurídico. No ano passado, em novembro, num artigo de opinião procurei facilitar a vida de quem governa, explicando onde estava o erro. Mais de um ano depois tudo está igual. A oposição esqueceu-se deste assunto? E da parte do Governo e do Grupo Parlamentar do PSD-Madeira, quem terá a humanidade de tomar a dianteira para ajudar estas pessoas? Não há interesse? Não me digam que isto acarretará muito dinheiro do orçamento regional. Estamos a falar de um nicho de pessoas em que qualquer ajuda é preciosa.

Vivemos tempos em que muitos atingiram já o seu limiar de equilíbrio financeiro e outros tantos já desceram deste patamar. Não apoiar agora criará muitos problemas sociais futuros. Depois de criada a “avalanche perfeita” é impossível travá-la e as consequências serão terríveis. 2023 será um ano de muitos desafios. Será preciso muita reprogramação pessoal e muita resiliência. É preciso ajudar as pessoas a resolverem os seus problemas. Pés na terra e praticabilidade.

E por falarmos em prioridades, agora que o mercado das criptomoedas colapsou, Miguel Albuquerque mantém a intenção de criar uma criptomoeda? 100.000 euros já foram à vida para um estudo de viabilidade. Dinheiro que poderia ser canalizado para outro tipo de apoio. É tempo de ter as prioridades bem definidas.

Estamos em dezembro, no mês da “festa”. Que este Natal seja vivido com saúde, muita paz e junto da família que se quer verdadeiramente bem. Que sejam umas festas felizes e que o Menino Jesus nos ilumine nas decisões que temos de tomar para 2023. Até janeiro, se Deus quiser!