Artigos

Criar (o) futuro (XIV)

Mais um ano está prestes a terminar. É tempo de olhar para o fio da história, fazendo um balanço do que foi 2022 e, sobretudo, perspetivar o novo ano que se avizinha.

Estou certa de que todos desejamos que 2023 seja um ano para lembrar e não mais um ano para esquecer.

Mas, embora um novo ano seja sempre um momento de renovação e de grandes expectativas, é difícil abstrair-nos de um sentimento latente de preocupação face às temáticas que preenchem o dia a dia e fazem manchete na comunicação social. Palavras como inflação, guerra, abusos, ciberataque, guerra, juros, seca, urgências, nuclear, energia, só para mencionar 9 das 10 palavras candidatas a palavra do ano 2022 em Portugal, são recorrentes nas conversas de todos nós.

Neste meu último artigo do ano, quero debruçar-me sobre um tema que, nem que seja de forma indireta, paira sobre todos essas palavras e sobre nós. Falo de saúde mental.

Li, com preocupação de cidadã, e apreensão acrescida de mãe, os resultados nacionais de um estudo recente da Organização Mundial de Saúde (OMS) sobre a adolescência em Portugal, em que se constata a deterioração da perceção de bem-estar/saúde mental e um significativo aumento do sentimento de infelicidade. Tais dados não podem se dissociar dos efeitos da pandemia na vida dos jovens, nomeadamente no seu desenvolvimento e estruturação. Dois anos de pandemia, com períodos de confinamento, numa idade em que se valorizam e são necessários os convívios e afetos, fazem toda a diferença na vida de um adolescente. E nem tempo tiveram para respirar, pois surge logo de seguida uma guerra na Europa, com o consequente agravamento do contexto social e económico. Dizemos que o futuro é dos jovens, mas o que é premente é que o presente também seja.

Para que haja bem-estar para os jovens, e para todos, uma das causas que exige a atenção não só dos decisores políticos, mas igualmente de cada um de nós, é assumir que é preciso colocar no centro da agenda política, e no nosso quotidiano, a importância de debater, melhorar e encontrar soluções e respostas para uma melhor saúde mental.

O desenvolvimento social e económico só se alcança se estiver assegurada a componente essencial que é a saúde de cada pessoa, em que a saúde mental assume um papel preponderante. Sabemos que as desigualdades económicas e sociais são uma das ameaças estruturais à saúde mental e, falando de ameaças, é verdadeiramente assustador o aumento verificado no consumo de substâncias aditivas, e os efeitos nefastos quer no próprio consumidor quer as repercussões na família e na comunidade. Trata-se de um problema sério e que a todos, sem exceção, diz respeito.

Há a clara consciência que é uma missão difícil, complexa e transversal a todas as áreas de intervenção política e social. E só com um verdadeiro compromisso e trabalho em rede, sem preconceitos nem culpabilização ou aproveitamentos políticos, é que ficaremos mais perto de mitigar o que se torna cada vez mais um flagelo social.

Vivemos tempos conturbados, com muitas adversidades e incertezas, mas que também podem se transformar em oportunidades e progresso, em direção a uma sociedade mais responsável e integradora.

Como disse o diretor-geral da OMS, Tedros Ghebreyesus, “O investimento em saúde mental é um investimento em uma vida e um futuro melhores para todos”.

A Sociohabitafunchal, E.M. (SHF), no âmbito da sua intervenção social e comunitária, nomeadamente, através do seu Gabinete de Psicologia e de projetos dinamizados nos vários centros comunitários, dá primazia ao apoio psicológico dos seus inquilinos e utentes. Neste âmbito, refiram-se as consultas individuais feitas pelo Gabinete de Psicologia, com o acompanhamento em diferentes patologias, em articulação com as entidades competentes nesta área. Há também todo um processo de integração na comunidade, apoiando a pessoa, família e vizinhos moradores nos conjuntos habitacionais geridos pela SHF.

Nos vários projetos desenvolvidos nos centros comunitários, destaco o “Girassol - em busca do sol”, que tem como objetivo contribuir para a educação socioemocional de crianças e jovens, potencializando o seu bem-estar físico e promovendo a saúde mental. Refiro, igualmente, o projeto “Educar para a saúde mental sénior”, que pretende promover, junto dos mais idosos, o bem-estar emocional, reduzir as perdas de memória, prevenir a depressão e outras doenças de foro mental.

Todos os contributos são necessários, por mais pequenos que sejam, para tornar cada vez mais realidade o preconizado pela Federação Mundial para a Saúde Mental como tema de 2022: “Tornar a saúde mental e o bem-estar para todos uma prioridade global”.

Apostar na mudança positiva, e trabalhar hoje para o bem-estar das atuais e novas gerações, é garantir um futuro melhor.

Boas Festas e Feliz Ano Novo!