Santos Silva diz que não pactua com massacres após críticas de Ventura sobre 50 anos de Wiriamu
O líder do Chega criticou hoje o presidente do parlamento por ter assinalado os 50 anos do massacre de Wiriamu, em Moçambique, e afirmado que importa pedir perdão, tendo Santos Silva respondido que pediu desculpa porque não pactua com massacres.
No debate sobre política setorial com a ministra da Presidência, que decorreu hoje na Assembleia da República, André Ventura começou a sua intervenção dirigindo-se ao presidente do parlamento, criticando o facto de Augusto Santos Silva ter feito um 'tweet' hoje de manhã com um vídeo a assinalar os 50 anos do massacre de Wiriamu, em Moçambique, em que afirma que importa perdão pelas cerca de 400 vítimas civis.
"Estas suas afirmações não nos representam, não representam as Forças Armadas portuguesas, e não fica bem a um presidente da Assembleia da República, em nome de não se sabe bem quem, lançar um anátema sobre as Forças Armadas portuguesas, sobre a história de Portugal, sobretudo a um país que nunca pediu desculpa pelas milhares de vítimas portuguesas que lá deixou enterradas sem qualquer justiça", criticou André Ventura.
O líder do Chega alegou que, "após a transição" para a independência, "os guerrilheiros moçambicanos mataram mais de três mil portugueses", por oposição às "400 vítimas que o senhor identifica em Wiriamu".
"Moçambique nunca pediu desculpa, as Forças Armadas moçambicanas nunca pediram desculpa. Porque raio no mundo é que nós vamos pedir desculpa?", inquiriu.
Na resposta a André Ventura, Santos Silva sublinhou que pede desculpas no dia em que se assinalam os 50 anos do massacre de Wiriamu "porque nós não devemos pactuar com massacres" e porque "somos humanistas".
"E sim, também peço desculpas em nome das Forças Armadas portuguesas que, no dia 25 de abril de 1974, nos libertaram de regime infame que cometeu esse massacre", disse.
O presidente da Assembleia da República assinalou hoje os 50 anos do massacre de Wiriamu, em Moçambique, durante a guerra colonial, e afirma que importa pedir perdão pelas cerca de 400 vítimas civis.
Esta posição sobre um dos factos mais trágicos da guerra colonial em Moçambique consta de uma mensagem vídeo que Augusto Santos Silva publicou na sua conta na rede social Twitter.
"Hoje passam 50 anos sobre o massacre de Wiriamu e esse facto deve ser recordado. É um facto que nos envergonha, mas não deve ser esquecido", salienta o presidente da Assembleia da República nessa mensagem.
O ex-ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros aponta depois que em 16 de dezembro de 1972 um contingente de militares portugueses e a polícia política portuguesa "perpetraram um massacre num conjunto de aldeias de Wiriamu".
"Esse massacre foi denunciado meses mais tarde por sacerdotes católicos. E essa denúncia contribuiu para o isolamento internacional do regime do Estado Novo e para o aumento da consciência em Portugal sobre a necessidade absoluta de acabar com esse regime e acabar com a guerra colonial", sustentou Augusto Santos Silva.
De acordo com o presidente da Assembleia da República, outros "massacres" tinham já ocorrido nessa zona de Moçambique e tinham sido denunciados, designadamente por sacerdotes católicos.
No entanto, na perspetiva do presidente do parlamento, "o massacre de Wiriamu foi especialmente bárbaro".
"Nenhum militar foi encontrado entre as vítimas, nenhum guerrilheiro foi encontrado entre as vítimas, todas as vítimas eram civis. E estamos a falar na ordem de quase quatro centenas de vitimas mortais deste massacre", realçou.
Para Augusto Santos Silva, "hoje é dia de recordar o massacre, de pedir perdão às suas vítimas e de homenagear aqueles, como o padre [Adrian] Hastings, que denunciaram, e também de homenagear os capitães de Abril".
"Os capitães de Abril, com o seu Movimento das Forças Armadas, puseram fim ao regime do Estado Novo, puseram fim à guerra colonial e permitiram que se abrisse um novo caminho nas relações entre Portugal e Moçambique. O caminho que hoje percorremos, o caminho de amizade, de cooperação e de profunda cooperação entre os dois países e os dois povos", acrescenta.