ONU alerta para evolução da ameaça terrorista cada vez mais "difusa e diversa"
A ONU alertou hoje que o cenário terrorista continua a evoluir e que a ameaça tornou-se "cada vez difusa e diversa por natureza", dando como exemplo a crescente descentralização de grupos como o Estado Islâmico (EI) ou a Al-Qaida.
Numa reunião do Conselho de Segurança da ONU, subordinada ao tema "Ameaças à paz e segurança internacionais causadas por atos terroristas", o diretor-executivo interino do Comité de Combate ao Terrorismo da ONU, Weixiong Chen, advertiu que grupos terroristas e seus afiliados "continuam a recalibrar os seus métodos estratégicos e operacionais", pedindo um maior envolvimento de Estados-membros, organizações internacionais e regionais, sociedade civil e setor privado no combate a esta problemática.
"Longe dos seus teatros tradicionais, campos de batalha surgiram no Sahel, oeste, leste, sul e centro da África e em partes da Ásia. (...) Também estamos a ver um aumento nas ameaças de terrorismo com base na xenofobia, racismo e outras formas de intolerância", disse Chen.
"Estes grupos tornaram-se mais transnacionais por natureza, estabeleceram fortes vínculos além das fronteiras e construíram redes robustas", explicou o especialista.
Além disso, os terroristas continuam a explorar plataformas 'online', incluindo plataformas de jogos, para recrutar e radicalizar, arrecadar fundos, planear e coordenar operações e disseminar propaganda, acrescentou.
Já o líder do Escritório de Contraterrorismo da ONU (UNOCT), Vladimir Voronkov, afirmou que apesar das contínuas perdas de liderança que a Al-Qaida e o EI têm sofrido, o terrorismo em geral tornou-se mais prevalente e mais geograficamente difundido, afetando a vida de milhões de pessoas em todo o mundo.
Dando como exemplo a presença sustentada de grupos terroristas no Afeganistão, Voronkov considerou preocupante que as autoridades afegãs tenham falhado em romper laços de longa data com grupos terroristas abrigados no país, apesar das exigências do Conselho de Segurança para que o fizessem.
Nesta reunião convocada pela Índia, país que assume este mês a presidência rotativa do Conselho de Segurança, Vladimir Voronkov afirmou que a melhor e mais eficiente forma de combater o terrorismo é através da prevenção, frisando a importância de abordar os motivos que levam a atos terroristas.
"Medidas antiterroristas devem ser empregadas em conjunto com iniciativas para abordar os motores da marginalização, exclusão, desigualdade, injustiça e falta de oportunidades -- os mesmos tipos de questões necessárias para reforçar o contrato social entre os cidadãos e os seus Governos", observou.
Ainda na reunião de hoje, a subsecretária de Estado para Assuntos Políticos do Departamento de Estado norte-americano, Victoria Nuland, afirmou que, no ano passado, o mundo enfrentou mais de 8.000 incidentes terroristas, em 65 países, que resultaram na morte de mais de 23.000 pessoas.
"Outros ataques recentes em todo o mundo, como o bombardeamento de uma esquadra de polícia na Indonésia, a tentativa de golpe na Alemanha e incidentes de ódio no nosso país, lembram-nos que nenhum país está a salvo dessa ameaça e que não pode ser derrotada por nenhum de nós sozinhos ou por qualquer bloco regional. Devemos todos trabalhar juntos", afirmou Nuland.
A ONU estima que o extremismo violento com motivação racial ou étnica aumentou mais de 320% nos últimos anos, com novos e preocupantes vínculos transnacionais entre os grupos, segundo apontou a representante norte-americana, exortando ao desenvolvimento de recursos compartilhados para "melhor detetar, degradar e responder a essas novas ameaças".
Antes dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos, o Conselho de Segurança da ONU raramente se debruçava sobre a temática do terrorismo. Desde então, porém, este órgão da ONU adotou mais de 40 resoluções sobre o combate ao terrorismo.