Apreensivos
As notícias diárias sobre aumentos de taxas de juro, inflação, pobreza, mendicidade, pessoas sem-abrigo, toxicodependência, criminalidade e outras tristes realidades na Madeira (e no Mundo) evidenciam um cenário pouco favorável para o novo ano. Ainda que animados com o levantamento das restrições pandémicas, desejamos Boas Festas reticentes e terminamos 2022 apreensivos.
Debruçar-me, em jeito de revista de imprensa, sobre as primeiras páginas dos principais jornais regionais permitiu-me constatar o porquê deste sentimento pouco animador nestes dias festivos. É que, efetivamente, 2022 tem sido um ano fértil em notícias conturbadas.
Desde o início de novembro, tanto o DIÁRIO como o JM têm noticiado sucessivos aumentos da Euribor e, consequentemente, do crédito à habitação, da inflação e da “pobreza envergonhada”, constatada não só pelas ajudas alimentares concedidas a quem tem casa e trabalho como pelas declarações do ex-ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Vieira da Silva, que admite haver “uma percentagem excessiva de pessoas que têm trabalho e estão no limiar da pobreza”.
Os dois jornais trazem à primeira página várias notícias sobre assaltos e insegurança. Fala-se em “escalada de crimes no Funchal” e alguns madeirenses, inquiridos numa sondagem realizada pela Aximage para o DIÁRIO e a TSF-Madeira, sentem-se “pouco ou nada seguros quando andam sozinhos à noite”.
O aumento da toxicodependência é outro drama espelhado nos matutinos: um Relatório do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências revela que a Madeira se destaca no panorama nacional pela prevalência nos consumos de drogas sintéticas; a Comissão de Dissuasão da Toxicodependência na Região destaca o aumento do consumo de droga na Madeira, com 130 processos; e, segundo dados da Casa de Saúde de São João de Deus, mais da metade dos doentes que iniciam tratamento de desintoxicação voltar a consumir.
Não querendo debater-me sobre a teoria do agenda setting, o que é um facto é que é evidente que estas temáticas, constantemente noticiadas, têm consequências diretas nas nossas vidas. Basta consultar o extrato bancário, ir ao supermercado ou andar nas ruas do Funchal, onde se pode ver muitas caras novas a mendigar e vários sem-abrigo estreantes. Como tal, ainda que nos sintamos seguros, porque a Madeira ainda é, sem dúvida, um lugar seguro, perante as circunstâncias, não nos sentirmos tão confiantes como antes. Ou pelo menos parece-me natural que nos questionemos como foram essas pessoas, certamente outrora com trabalho e uma vida normal, parar às ruas…