Madeira

“É uma ilusão” pensar que a Madeira pode ser Silicon Valley

Foto Hélder Santos/Aspress Ver Galeria
Foto Hélder Santos/Aspress

A Madeira pode atrair mais nómadas digitais mas não deve aspirar a ser um pólo mundial de tecnologia como Silicon Valley (Califórnia, EUA), pois falta-lhe um centro de excelência. A constatação é de Sini Ninkovic, um especialista digital que participou na Conferência Inovação e Futuro – ‘Future Works’, que decorreu esta tarde, no Centro de Congressos da Madeira (Casino), e que foi organizada pelo DIÁRIO. 

“É uma ilusão pensar que só porque o tempo é bom, os transportes são bons, a comida é barata e as pessoas são agradáveis que as pessoas virão para aqui em massa. Isso não vai acontecer. Porquê? Porque é preciso ter um centro de excelência ou algo parecido”, declarou Sini Ninkovic. Este autor, que trabalhou oito anos na Apple, em Silicon Valley, optou por vir viver para a Madeira nos últimos anos, à semelhança de outros nómadas digitais. No entanto, não está a ver os profissionais digitais a virem “em massa” para o nosso arquipélago. “Eu tenho tentado fazê-lo mas é realmente difícil retirar as pessoas de Silicon Valley”, afirmou.

Sini Ninkovic considera “fascinante como Silicon Valley atrai tanto talento, já que é o oposto da Madeira”, pois “a comida não é melhor, o tempo não é melhor, o trânsito é horrível, mas mesmo assim toda a gente quer ir para lá”. O orador descreveu o ambiente Silicon Valley: “Há um ambiente muito orientado para um objectivo” e “atenção humana”. “O tipo de pessoas que eu encontrei lá não vi em nenhum outro lugar. Um simples motorista da Google que conheci tinha um PhD [doutoramento] em Neurociências. Uma pessoa com alto nível de ensino aceita qualquer emprego apenas para que possa conhecer outras pessoas com quem se pode conectar. Esse tipo de coisas não se vê noutras cidades. Silicon Valley dispõe de um ambiente muito orientado para um objectivo. É claro que há o reverso da medalha, que é a pressão das empresas sobre os funcionários para que trabalhem muitas horas”.

A directora regional de Informática, Andreia Collard, reconheceu que a Madeira continua a ter uma vocação turística, mas realçou o afluxo de nómadas digitais que se registou a partir da pandemia trouxe alterações ao padrão laboral e económico.

Já Adrian Wright, especialista em cibersegurança que também foi orador na conferência, destacou as vantagens da Madeira no capítulo da segurança e apontou para a existência de um centro de especialização (Universidade da Madeira).