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Putin cancela conferência anual por "sentimento antiguerra na Rússia"

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O Ministério da Defesa britânico disse hoje que o Presidente russo, Vladimir Putin, cancelou a sua conferência de imprensa anual devido a "preocupações crescentes sobre a prevalência do sentimento antiguerra na Rússia".

"Embora as perguntas sejam examinadas com antecedência, o cancelamento provavelmente deve-se a preocupações crescentes sobre a prevalência do sentimento antiguerra na Rússia", adiantou o ministério no Twitter.

"É quase certo que as autoridades do Kremlin estão extremamente sensíveis à possibilidade de que qualquer evento com a presença de Putin possa ficar refém de uma discussão sobre a 'operação militar especial'", acrescentou, usando o termo de Moscovo para o conflito russo-ucraniano.

Na conferência de imprensa anual, o líder do Kremlin responde a uma série de perguntas sobre política interna e externa para demonstrar o seu domínio e aparentar abertura.

Mas este ano, com as suas tropas em desvantagem na Ucrânia, poderia ser impossível evitar perguntas incómodas sobre os erros militares russos, mesmo num evento altamente controlado.

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, confirmou na segunda-feira que Putin não daria a conferência de imprensa sem explicar o motivo.

Alguns dos eventos anteriores duraram mais de quatro horas e meia, durante as quais o chefe de Estado russo enfrentou algumas questões pontuais, usando-as para gozar com o Ocidente ou denegrir os seus opositores domésticos.

Putin também cancelou outro evento anual este ano, um programa de televisão, no qual responde a perguntas do público para alimentar a sua imagem de pai da nação.

Até ao momento, o líder russo falhou em realizar o discurso anual sobre o estado nação -- uma obrigação constitucional -- com transmissão televisiva.

O Kremlin bloqueou qualquer crítica à invasão da Ucrânia do campo antiguerra liberal, fechando os meios de comunicação social independentes e criminalizando a disseminação de qualquer informação que seja diferente da visão oficial -- incluindo chamar campanha de guerra.

Mas, no entanto, Putin tem enfrentado críticas cada vez mais fortes dos radicais russos, que denunciaram o presidente como fraco e indeciso e pediram o aumento dos ataques à Ucrânia.

A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de mais de 14 milhões de pessoas -- 6,5 milhões de deslocados internos e mais de 7,8 milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

Neste momento, 17,7 milhões de ucranianos precisam de ajuda humanitária e 9,3 milhões necessitam de ajuda alimentar e alojamento.

A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra 6.755 civis mortos e 10.607 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.