As "condições atmosféricas" e os "constrangimentos de transporte aéreo" são as justificações apontadas pelo Serviço de Saúde da Região (SESARAM) para a falta de medicamentos na farmácia do Hospital Dr. Nélio Mendonça para o tratamento de doenças oncológicas, situação que faz hoje a manchete do DIÁRIO. 

Em comunicado, o prestador público de serviços de saúde reconhece que há medicamentos em falta, alegando que 23 dos 523 remédios adstritos à área de Hemato-oncologia "estão em trânsito para a Madeira", esclarecendo que "alguns ficaram condicionados pelas condições atmosféricas e pelos constrangimentos de transporte aéreo, desde a semana passada por causa do feriado, uma vez que a maioria exige rede frio".

Na notícia hoje publicada é feita referência específica a dois medicamentos - o Fulvestrant e o Erleada - e a um 'anti-corpo'.

O SESARAM não esclarece se o Fulvestrant está incluído na lista dos 23 fármacos em trânsito, sendo que a doente que ontem reportou a sua situação ao DIÁRIO está à espera do mesmo há pelos menos três meses.

Sobre o Erleada, a empresa pública da Saúde nota que, "os medicamentos de dispensa hospitalar exclusiva [como será o caso], por determinação da legislação vigente, utilizados no tratamento do cancro da próstata, neste momento estão em trânsito com compromisso de entrega quarta-feira (amanhã) ou quinta-feira. Os condicionamentos aéreos irão ditar a chegada dos medicamentos todos", podemos ler no comunicado. 

O SESARAM esclarece ainda que "o aumento de consumos neste grupo de 23 identificados, deve-se ao maior numero de doentes que estão a ser apoiados com esta medicação". E concretiza com o exemplo do medicamento  Erleada - Apalutamida: "era de 372 comprimidos em 2021 e passou para 1.740 comprimidos em 2022". 

Sobre os 'anti-corpos' utilizados em muitos dos tratamentos de doentes oncológicos (os doentes, em muitos casos, beneficiam de mais do que um tipo de medicação), nada é adiantado em específico pelo SESARAM. Conforme o DIÁRIO dá conta esta terça-feira, na notícia com o título "Falta de medicamentos impede tratamentos de cancro na Madeira", há doentes que fazem apenas metade do tratamento que estava indicado pelo médico assistente, devido à carência de alguns fármacos.

Segundo o SESARAM, "os processos de aquisição de medicamentos obedecem, ao processo de contratação pública, o que constitui um processo moroso devido à necessidade de consultar aos vários laboratórios que disponibilizam o medicamento".

A falta de medicamentos tem sido recorrente. Ainda no passado dia 23 de Novembro o DIÁRIO dava conta de que faltavam 378 remédios na farmácia do hospital, o equivalente a 14% do total de medicamentos disponibilizados por aquele serviço.

“Na data de 27 de Outubro, o SESARAM, EPERAM tinha cerca de 20 medicamentos (do universo de 2.700 – formulário hospitalar do medicamento) com ruptura a nível nacional, consequência da actual situação internacional”, esclarecia aquele prestador público de cuidados de saúde. Na mesma ocasião, apontavam como solução a importação de fármacos directamente do estrangeiro.

O DIÁRIO questionou, na tarde de ontem o Serviço Regional de Saúde sobre estas situações concretas - uma doente com cancro na mama, uma doente com cancro no intestino e um doente com cancro na próstata - particularmente no que respeita à falta dos medicamentos pelos próprios apontados. Não recebemos qualquer resposta da parte do SESARAM. 

Tal como o DIÁRIO tem vindo a noticiar - e outros órgãos de comunicação social regional, nacional e internacional - a falta de medicamentos tem sido um dos problemas no contexto (pós)pandémico e de guerra na Ucrânia, com as farmacêuticas a fazerem uma gestão de stocks que nem sempre contempla os países com menos rentabilidade, como é o caso de Portugal.

Essa justificação já foi, inclusive apontada por elementos do Governo Regional para justificar a falta de alguns medicamentos. Os doentes com quem falámos ontem reconhecem esses constrangimentos, ainda assim questionam a gestão que é feita localmente e criticam a falta de informação em relação à sua situação.

Como apontava um dos doentes, em relação ao tempo que já ficou sem tratamento devido à falta de medicamentos, está em causa um "tempo precioso que me foi roubado, não pelo cancro, mas pelo Governo ao qual paguei impostos a minha vida toda", diz, sustentando a sua crítica. 

Sobre os condicionamentos nas ligações aéreas, que hoje se verificam, justificados esta terça-feira pelas condições climatéricas, e que foram apontados pelo SESARAM como uma das justificações, de referir que na semana passada não houve registo de situações anómalas no Aeroporto da Madeira.