Natal de periferias, plano para pobres e ricos. Quem aceita?
Estou a escrever em dias natalícios, de grandes conferências de países e de crises várias e guerras. Misturam-se intenções e propósitos de menos energias sujas dos 200 países no Egito a dialogarem sobre os países que transtornam o clima e os que mais sofrem os danos. Os 20 países ricos em Bali, Indonésia, mais poluentes, não dialogam com países pobres. O mundial do futebol decorre em país alegadamente acusado de escravizar milhares de pobres a construir os estádios. À volta de tantos eventos investiga-se e polemiza-se sobre os efeitos da guerra, a crise de energias, a fome, os oito mil milhões de humanos do planeta, completados em 16.11.24 e o número de pobres, miseráveis e famintos. Para tantos problemas, dons e sofrimentos pergunta-se: Que fazer? Quem faz? Que plano?
Para muitos o Deus-Homem do Natal tem um plano, os dos reinos deste Mundo terão outros, essencialmente diferentes. Por agora, nestes milénios que passam, entre o Reino de Deus e os reinos do mundo não há separação. O plano do Natal convida à passagem dos reinos do mundo para o de Deus, ainda nesta vida terrena, até ao último segundo, em que o Reino de Deus passa a nova fase. Cada passagem é mistério não verificável. A Palavra do Natal do Evangelho narra como é diferente o Reino de Jesus; e como ainda no mundo se passa para ele. Até passarem, todas as pessoas vivem nas periferias desse Reino e todas amadas por Deus. Mas atenção! Só entram aqueles que querem e aceitam o seu plano. Ele não pode forçar. Importa orar para entender: Senhor, dais a liberdade como parte integrante da dignidade dos teus filhos e irmãos; concede-lhes o dom de dizerem sim ao teu plano, como Zaqueu, Paulo, a 100ª ovelha, a perdida, que tomaste aos ombros, os desempregados que chamaste ao fim da tarde para a tua vinha e Reino, e como o filho mais novo da parábola de “um pai tinha dois filhos”. Em alegria!
Pasma-se ao ouvir que a produção mundial de alimentos não chega para toda a população. Mentira! Logo outros, argumentam com dados de ciência, e dizem que há 200 anos a população era de mil milhões e a fome afligia cerca de 100%; hoje, são 8 mil milhões e só (e ainda) 10% (800 milhões) sofrem de fome. Espanta mais quando ainda Joel Cohen (cf. Raquel Albuquerque, Expresso 1º Cad. p. 22, 11.11.2022) vem apresentar as contas e dizer que a produção alimentar atual chega para alimentar não 8, mas 14 mil milhões. Porquê, então ainda 800 milhões a passar fome? Porque são os ricos a fazer o seu plano e a segui-lo só 43% dos alimentos são para as pessoas, 36% para os animais e a carne deles vai para os que têm dinheiro para a comprar e 21% vai para as máquinas. Desperdiçam-se alimentos e crianças. Governa o mercado, «ignoramos a dignidade humana» (Cohen), ficam 800 milhões com fome, 150 (22%) milhões de crianças raquíticas, «desperdiçadas» «como sacos de plástico deitadas ao lixo». Que pena! Não aceitam o plano do Menino do Natal!
O não à dignidade humana, sobrepõe o egoísmo ganancioso às pessoas. E que diz o Natal? Para muitos, nada; para o mercado, Natal é publicidade gratuita de negócios. Para o mundo de tradição cristã é saudosismo religioso-poético, que não se leva a sério. A não ser, para alguns, quando vêm surpresas como as do Baptista e de Jesus, que perguntam. «E nós que havemos de fazer?» (Lc. 3, 1-6). E vós quem dizeis que eu sou? Para uns 30% dos cristãos de batismo, o Natal celebra o acontecimento da História mais esperado e surpreendente: a mudança do coração. Natal é memória e celebração das questões maiores e mais sérias da humanidade. Sem aceitar o plano do Reino de Deus, os homens continuarão a destruir-se, profanando a liberdade com que Deus lhes dá dignidade.
Natal é apelo a responder às questões do Evangelho do Reino, fermento, sementes e ramos unidos ao Menino do presépio e da Cruz. Natal é sim à chamada para o Reino que Jesus trouxe. É partilhar as túnicas do guarda-roupa, as 99% das refeições de celeiros e frigoríficos; respeitar a dignidade dos 100% dos irmãos, tomar a Cruz da renúncia aos planos dos reinos deste mundo, e seguir o Cordeiro de Deus que João indicou no Jordão.
Aires Gameiro