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Justiça francesa abre investigação a cardeal que confessou abuso de menor

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A Justiça francesa abriu uma investigação ao cardeal Jean-Pierre Ricard, indiciado, em conjunto com 10 outros ex-bispos, por abusos sexuais ou falta de denúncia na Igreja Católica.

Uma investigação preliminar já tinha sido aberta por "agressão sexual agravada para verificar a natureza e a data exata dos factos denunciados", anunciou a procuradoria da Justiça de Marselha.

Na segunda-feira, o episcopado francês anunciou que 11 bispos e ex-bispos, incluindo Jean-Pierre Ricard, tinham sido indiciados pela justiça civil ou pela justiça canónica (da Igreja católica) por abusos sexuais ou falta da sua denúncia.

A informação foi avançada pouco mais de um ano após a publicação de um relatório que estimou em cerca de 330.000 o número de vítimas de padres, diáconos, religiosos ou pessoas ligadas à Igreja católica de França desde 1950.

O episcopado reconheceu, na altura, "responsabilidade institucional", mas desta vez o choque foi maior, já que o anúncio foi acompanhado por uma carta de confissão escrita por Jean-Pierre Ricard, ex-arcebispo de Bordeaux atualmente com 78 anos, na qual admitiu ter tido, há 35 anos, quando era pároco em Marselha, "uma conduta condenável com uma menina de 14 anos".

"O meu comportamento causou necessariamente consequências graves e duradouras nessa pessoa", escreveu o cardeal, sem avançar mais detalhes.

Segundo a procuradoria, Jean-Pierre Ricard terá explicado ao bispo de Nice, que entrou com uma ação judicial no final de outubro, que "beijou" a jovem em questão.

Além de arcebispo de Bordeaux, entre 2001 e 2019, Ricard foi também presidente da Conferência Episcopal da França (CEF), entre de 2001 e 2007, tendo sido nomeado cardeal, em 2006, pelo Papa Bento XVI.

Dois anos depois de se ter "aposentado" como cardeal, monsenhor Ricard manteve-se como um dos quatro cardeais franceses a poder sentar-se no Colégio dos Cardeais com probabilidade de eleger um novo Papa.

Apesar de o crime já ter prescrito, esta investigação visa determinar se há outras possíveis vítimas do cardeal.

O cardeal Ricard "colocou-se à disposição da Justiça e da Igreja. Quer dizer a verdade e não se esconderá", assegurou Christophe Disdier-Chave, administrador diocesano de Digne (sudeste de França), onde o prelado está retirado.

O presidente da Conferência Episcopal (CEF), Eric de Moulins-Beaufort, anunciou, entretanto, a constituição de "um comité de acompanhamento ao qual qualquer arcebispo ou bispo que tenha de lidar com casos de abuso de outros bispos deverá dirigir-se para que seja acompanhado em todas as etapas do processo".

O presidente da CEF também se referiu aos detalhes de outros prelados que foram investigados pela justiça francesa.  

"Atualmente há seis casos de (antigos) bispos que estiveram implicados no sistema judicial do nosso país (França) ou perante a justiça canónica", disse sublinhando que os casos "são conhecidos da imprensa" (francesa). 

Um dos implicados "já morreu" em 2018, disse ainda o presidente da CEF especificando que se tratava de Pierre Pican, condenado por não ter apresentado denúncias.

No total, a CEF apontou dez antigos bispos: "oito estão atualmente implicados por abusos, e dois implicados por não denúncia (um foi condenado em 2018 e outro libertado em 2020)".

"É um novo tsunami. Não se pensava que tantos bispos podiam estar envolvidos", disse Marie-Jo Thiel, professora de ética na Faculdade de Teologia de Estrasbugo à publicação religiosa La Croix, editada hoje.