As eternas desigualdades sociais

Camões (1524-1580), escreveu há mais de 400 anos o soneto:

“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”.

Porém, e não obstante a mudança dos tempos, as vontades continuam imutáveis, senão vejamos!

Almeida Garrett, em 1846 nas Viagens da Minha Terra, deixou a pergunta:

“E eu pergunto aos economistas, políticos, aos moralistas, se já calcularam o número de indivíduos que é forçoso condenar à miséria, ao trabalho desproporcionado, à desmoralização, à infâmia, à ignorância crapulosa, à desgraça invencível, à penúria absoluta, para produzir um rico?”

Na conjugação de escritos diria que, contrariando Camões, infelizmente nada mudou, antes pelo contrário. Só piorou!

Num mundo onde são cada vez mais gritantes e agonizantes, infelizmente, as desigualdades, é imperioso a sociedade mudar, urgentemente, de mentalidade.

Senão estaremos, de uma forma triste e resignada, a permitir que a pergunta de Almeida Garret continue a fazer sentido passados, quase, 200 anos....!!!

E a prova, maior, do declínio social e humanista que a nossa Sociedade atravessa são as notícias infra:

22 de Junho de 2021

“Parcela dos 1% mais ricos em Portugal concentra 20% da riqueza. Metade mais pobre só tem 6,5%

Os números permitem também ver como Portugal continua um país desigual. Em 2020, a parcela restrita dos 1% mais ricos detinha 20,1% da riqueza do país, mais uma décima do que em 2019. Já os 10% mais ricos concentram mais de metade da riqueza — 56,2%. No outro extremo da balança, metade da população apenas detém 6,5%, um valor que está a cair: em 2019, no pré-pandemia, estava nos 7,2%.(…)”

DN 21 de Outubro de 2022

“Supermercados colocam alarmes em alimentos. Aumentam roubos para comer”

O agravamento do custo de vida está a levar ao aumento de furtos de alimentos em supermercados, que estão agora a colocar alarmes em vários produtos como latas de atum, garrafas de azeite e peixe congelado. “É o primeiro sintoma de uma grave crise social”, diz o director-geral da Associação Portuguesa das Empresas de Distribuição.

Dá que pensar e muito!!!

Que paremos para pensar, mas não percamos mais tempo, pois o mais importante é AGIR!

Quem se Defende - de Bertold Brecht

“(…) Quem se defende porque lhe tiram o ar

Ao lhe apertar a garganta, para este há um parágrafo que diz:

Ele agiu em legítima defesa.

Mas o mesmo parágrafo silencia

Quando vocês se defendem porque lhes tiram o pão.

E no entanto morre quem não come, e quem não come o suficiente

Morre lentamente.

Durante os anos todos em que morre

Não lhe é permitido se defender. (…)”

Celso Nuno Ventura de Sá