“No pasa nada”
O Ministro da Economia anunciou a redução do IRC para as empresas. Um dia depois um Secretário de Estado do Ministro das Finanças desmentiu-o. Dizendo que cada vez que lhe falavam em choque fiscal se lembrava das chicotadas psicológicas dos treinadores de futebol que nem sempre resultam bem. Uma comparação pouco perceptível e menos feliz.
Não foi o ministro das Finanças a contrariar o seu colega da Economia. Foi um seu subalterno. O relacionamento entre ambos fica decididamente abalado. Tal como as condições para continuar a exercer funções. Mas, como diria o espanhol, “no pasa nada”.
É a história mal contada das pensões, a guerra da Ministra da Saúde com a Ordem dos Médicos que a levou à demissão, o Ministro das Infraestruturas a anunciar um aeroporto que o Primeiro-Ministro não conhecia como se fosse uma ida ao cinema, a Secretária de Estado a achar positivo que a área ardida tinha sido menor que a prevista. No entanto, “no pasa nada”.
São as graves carências nas urgências hospitalares sem qualquer solução à vista, as sucessivas suspeitas de favorecimento entre membros do executivo e familiares que, apesar da presunção de inocência, vão corroendo, desgastando e, agora, o Presidente da República a dirigir reprimenda pública à Ministra da Coesão sobre a execução dos fundos comunitários. Todavia, “no pasa nada”.
É muita coisa, em tão pouco tempo, para quem está na cómoda situação de nem ter oposição com representatividade suficiente para pôr em risco a sua estabilidade. Quem o faz são os próprios governantes. Opõem-se uns aos outros e a si próprios. As diatribes dos seus membros transformou o governo num ingerível saco de gatos. E, “no pasa nada”.