Medina admite "tensões" entre políticas orçamentais e monetárias e pede coordenação
O ministro das Finanças, Fernando Medina, admitiu hoje "tensões" entre as políticas orçamentais e monetárias, após a nova subida das taxas de juro pelo Banco Central Europeu (BCE), defendendo coordenação para baixar a inflação e evitar a recessão.
"É natural que, nestes momentos, haja uma tensão, que está longe de ser única [...], entre objetivos do ponto de vista da condução das políticas. As tensões entre as políticas orçamentais e as políticas monetárias são um clássico, nomeadamente em períodos de rápida subida das taxas de juro", reagiu Fernando Medina.
Falando em declarações aos jornalistas portugueses em Bruxelas, antes da reunião dos ministros das Finanças do euro (Eurogrupo), com responsável português da tutela vincou que "a palavra-chave é coordenar as políticas para, por um lado, combater a inflação e, por outro lado, não entrar em mais dificuldades económicas".
"Por isso é que eu alertei e sublinhei um aspeto muito importante, que aliás trarei aqui à reunião do Eurogrupo, o da importância da coordenação das políticas porque precisamos de conseguir ao mesmo tempo duas coisas: por um lado, combater a inflação e fazê-lo de forma eficaz, sabendo que uma parte importante da inflação [...] se deve à guerra e à energia e aqui a eficácia das taxas de juro é bem mais limitada na sua resolução; mas por outro lado, temos de assegurar que esse processo de subida das taxas de juro não provoca, ele próprio, uma recessão, nomeadamente nos países centrais da Europa, onde a fragilidade económica é hoje mais visível", elencou Fernando Medina.
Admitindo que este "um caminho estreito", o ministro das Finanças reforçou que, se as duas políticas estiverem coordenadas, será possível "atingir os dois objetivos de forma bastante mais eficaz, protegendo muito melhor o emprego, a economia dos Estados-membros e provocando menos dificuldades".
"Se, pelo contrário houver descoordenação do ponto de vista da política orçamental, ignorando que estamos num processo de inflação elevada, ou do ponto de vista da política monetária, ignorando que subidas muito rápidas e contínuas trarão problemas na frente económica que depois agravarão um conjunto muito vasto de problemas [...], teremos muito mais dificuldades", avisou Fernando Medina.
Dados provisórios divulgados na semana passada pelo gabinete estatístico europeu, o Eurostat, revelam que a taxa de inflação anual na zona euro voltou a bater recorde, chegando aos 10,7% em outubro após 9,9% no mês passado.
Antes, no final de outubro e com o objetivo de travar a inflação, o BCE subiu as três taxas de juro diretoras em 75 pontos base, o terceiro aumento consecutivo deste ano, depois de em julho ter subido em 50 pontos base as três taxas de juro diretoras, a primeira subida em 11 anos, e em setembro em 75 pontos base.
Com esta subida, a terceira consecutiva e a segunda desta dimensão, a principal taxa de refinanciamento do BCE fica em 2%, a taxa de juro aplicada aos depósitos em 1,5% e a taxa de juro de facilidade permanente de cedência de liquidez passa para 2,25%, o nível mais elevado desde julho de 2008.
O BCE já tinha decidido duas subidas das taxas de juro desde o início do verão, pondo fim a uma década de política monetária expansionista.