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Com orações e teorias da conspiração Republicanos pró-Trump lutam pela "liberdade"

Foto EPA/ETIENNE LAURENT
Foto EPA/ETIENNE LAURENT

A "luta pela liberdade" mobiliza os eleitores Republicanos na reta final para as eleições intercalares de terça-feira, em ações de campanha inspiradas em Donald Trump, onde abundam teorias da conspiração e até orações.

Ao final da tarde de domingo, cerca de 200 republicanos reuniram-se num pequeno salão no sul da cidade de Filadélfia, no estado da Pensilvânia, para apoiar o candidato da extrema-direita a governador Doug Mastriano e a sua campanha pela "restauração da liberdade".

Equipados a rigor com bonés com a inscrição "MAGA - Make America Great Again", icónico 'slogan' de campanha de Donald Trump que significa "Tornar a América Grande de Novo", os republicanos iam lançando duras críticas ao atual Presidente, Joe Biden, que acusavam de "deixar as fronteiras abertas" e de estar "a afundar o país".

À Lusa, Michael, um trabalhador de um mercado de peixe, foi mais longe e acusou o Governo democrata de estar a tentar "implementar uma nova ordem mundial nos Estados Unidos" e de "querer destruir a civilização ocidental".

"Os comunistas, os liberais, eles querem destruir a civilização ocidental. Eles querem uma religião mundial e um Governo mundial. Eles querem controlar as nossas vidas. E acredito que, do lado Republicano, estamos aqui para derrotar esse propósito e manter a América como país", disse.

Tecendo duras avaliações à "imprensa tradicional", que "não faz nada além de mentir", o homem de 53 anos reforçou a alegação Republicana de que as eleições presidenciais de 2020 foram roubadas a Trump e afirmou estar confiante que o ex-chefe de Estado regressará à Casa Branca em 2024 e livrará os Estados Unidos desta "nova ordem mundial, do comunismo e do marxismo".

"Nós apenas temos que ir às urnas e votar aos milhões porque eles, o lado democrata, forjam as eleições. Se sairmos aos milhões e votarmos, não há como eles mudarem isso. Temos que votar. Esse é o ponto. Mas eles querem implementar o comunismo aqui nos Estados Unidos, isso é o que está a acontecer agora. E muita gente não sabe disso. Muitas pessoas estão de olhos tapados", alegou.

Questionado pela Lusa sobre se apoiou o ataque ao Capitólio de 06 de janeiro de 2021, em que apoiantes de Trump tentaram impedir a certificação da vitória eleitoral de Joe Biden, Michael disse que "não prestou muita atenção ao episódio", mas advogou que nenhum dos invasores estava armado e que a única pessoa que morreu no ataque foi "uma apoiante de Donald Trump desarmada".

Contudo, estas afirmações não são verdadeiras. No dia do ataque, não só cinco pessoas morreram e mais de 140 polícias ficaram feridos, como documentos judiciais indicam que muitos dos invasores estavam armados.

Para Susan, uma gerente de projetos de 56 anos, as eleições intercalares de terça-feira são "absolutamente críticas" e os Estados Unidos precisam de "voltar a ser uma República constitucional".

"Precisamos de integridade eleitoral. Precisamos ser independentes de energia novamente. Precisamos que a nossa economia seja impulsionada, precisamos de empregos aqui na Pensilvânia", defendeu.

Entre críticas aos democratas, os republicanos chamaram um padre ao palco e rezaram em uníssono duas orações, para "guiar Doug Mastriano à vitória".

Um dos candidatos mais pró-Trump nestas eleições, Mastriano defende a proibição total do aborto, mais exploração de petróleo e gás natural e uma revisão total das leis eleitorais.

Uma das organizadoras do evento - que se recusou a identificar-se - disse à Lusa que aquelas cerca de 200 pessoas estavam ali para tentar "restaurar a liberdade na Pensilvânia".

"A nossa liberdade está em jogo. A liberdade de escolher como os nossos filhos são educados e a liberdade de vivermos a nossa vida como acharmos melhor", disse.

Uma outra republicana presente no evento, e que também não se quis identificar, afirmou que as ruas de Filadélfia se tornaram uma "zona de guerra" devido ao aumento da criminalidade, algo que "já vem acontecendo há anos sob este regime".

"O movimento trabalhador, o pessoal da construção, têm perdido milhões de dólares desde que Biden assumiu o cargo. Mas ainda assim os sindicatos continuam a apoiá-lo. Mas eu não!", concluiu.

Charles Gerow, um estratego político do Partido Republicano e CEO da Quantum Communications, uma empresa de relações públicas com sede na Pensilvânia, foi um dos oradores do evento a favor de Mastriano, afirmando que esta eleição "é vital".

"É a liberdade que vai às urnas. Somos os últimos defensores da liberdade. Saiam às ruas, batam às portas, façam o que têm que fazer para dar a vitória a Doug Mastriano", instou.

As eleições intercalares de terça-feira vão determinar qual o partido que vai controlar o Congresso nos dois últimos anos do mandato de Biden, estando também em jogo 36 governos estaduais e vários referendos locais sobre questões-chave, incluindo aborto e drogas leves.

Em disputa estarão todos os 435 lugares na Câmara dos Representantes (câmara baixa do Congresso), onde os democratas detêm atualmente uma estreita maioria de cinco assentos, e ainda 35 lugares no Senado, onde os democratas têm maioria apenas graças ao voto de desempate da vice-Presidente norte-americana, Kamala Harris.

As eleições podem não apenas mudar a cara do Congresso norte-americano, mas também levar ao poder governadores e autoridades locais apoiantes de Donald Trump.

Uma derrota muito pesada nas próximas eleições pode complicar mais o cenário de um segundo mandato presidencial para Joe Biden.