Candidatos nos EUA são cada vez mais velhos e jovens votam cada vez menos
Em semana de eleições intercalares nos EUA, os estudos revelaram que os candidatos são cada vez mais velhos e que os jovens se sentem cada vez menos motivados para votar.
O Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, completou 79 anos e é o inquilino mais velho da Casa Branca, e o seu mais recente adversário eleitoral, Donald Trump, tem 76 anos, num país que tem visto a classe política a envelhecer, sem grandes sinais de renovação.
Ao mesmo tempo, os eleitores entre os 18 e os 24 anos são a zona demográfica que demonstra menos apetência para votar, com vários estudos a revelar que os jovens norte-americanos se sentem cada vez menos representados pelos seus eleitos.
Um recente relatório do Centro de Informação e Pesquisa sobre Aprendizagem Cívica (Circle) mostrava que, interrogados sobre a sua intenção de votar nas eleições intercalares da próxima terça-feira, a maioria (78%) dizia que esse era um cenário "pouco provável".
Curiosamente, estes dados contrastam com aqueles que foram detetados nas eleições intercalares de 2018, onde a afluência às urnas por parte dos jovens foi um dos mais elevados de sempre, tendo aumentado de 17% para 32% desde idênticas eleições em 2014.
Para Brian Gomez, investigador de Ciência Política da Universidade de Georgetown, em Washington D.C., as eleições intercalares de 2018 provaram que, quando os políticos se esforçam, conseguem cativar os votos dos jovens, nomeadamente através de campanhas mais inclusivas, com recurso a tecnologias de comunicação interativas.
"Nesse ano, em particular o Partido Democrata tirou proveito do 'know-how' acumulado nas campanhas do ex-Presidente Barack Obama de mobilização do eleitorado jovem, com ações de campanha direcionadas para os seus temas de interesse e com recurso às redes sociais", explicou Gomez em declarações à Lusa.
São os Democratas aqueles que mais apreensivos poderão ficar, perante o cenário de alheamento do eleitorado jovem, já que foram eles que deram um forte impulso à conquista da Câmara de Representantes, nas intercalares de 2018, bem como à vitória de Joe Biden, nas presidenciais de 2020.
Contudo, os estudos também revelam que os jovens não se entusiasmam muito por nenhum dos dois partidos, sobretudo quando eles apresentam os chamados "candidatos do aparelho", muito conotados com a forma tradicional de fazer política.
Isso ajuda a explicar porque, em 1992, o candidato independente e empresário milionário Ross Perot teve 22% dos votos dos jovens entre os 18 e os 24 anos, conseguindo atrair a atenção desse eleitorado, muito antes do uso das ferramentas digitais de comunicação, através de uma campanha agressiva direcionada para temas disruptivos.
Por outro lado, devido ao progressivo envelhecimento da população norte-americana, o voto jovem tem vindo a perder peso no universo dos votantes, o que pode ajudar a explicar que os políticos também lhes dediquem menos atenção, até porque vão ficando, eles próprios, mais velhos e afastados dos interesses dessa franja de eleitorado.
No Congresso, a idade média dos congressistas é a mais elevada em duas décadas e as eleições intercalares da próxima terça-feira não devem mudar em muito este cenário, com a geração dos "baby boomers" (que nasceu a seguir à Segunda Guerra Mundial) a dominar a maioria dos lugares no Capitólio.
Os estudos do Circle mostram que os jovens se entusiasmam ainda menos com as eleições intercalares do que com as eleições presidenciais, nos Estados Unidos.
"Estas são eleições com muito taticismo partidário. E isso não diz nada aos jovens, que respondem com o seu alheamento aos jogos de interesses entre os dois partidos, na tentativa de terem uma maioria no Congresso", disse Brian Gomez.
Por outro lado, o estudo da organização Circle explica que os jovens consideram que os políticos não estão a saber dar respostas eficazes aos seus problemas, como o aumento do preço da habitação ou a diminuição do investimento em educação.