Madeira

Sérgio Jesus destaca “recuperação enérgica do Turismo” mas alerta para sinais da economia

Foto Hélder Santos/Aspress
Foto Hélder Santos/Aspress

O administrador da Empresa de Consultoria e Assessoria Empresarial da Madeira (ECAM), Sérgio Jesus, realçou, esta tarde, no Centro de Congressos (Casino), na abertura da cerimónia de entrega de prémios da 33.ª edição das 500 Maiores e Melhores Empresas da Madeira, que para as empresas regionais o ano de 2021 “foi de recuperação generalizada” face a um ano de 2020 dominado pela pandemia, sendo que o turismo “foi o sector que revelou uma recuperação mais enérgica”. Apesar do volume de negócios das 500 maiores empresas regionais ter crescido 26,9% quando comparado com o ano anterior, o responsável alertou para alguns sinais da economia e sugeriu medidas ao Governo Regional e entidades públicas.

Segundo o porta-voz da organização do evento promovido pelo DIÁRIO, o crescimento do volume de negócios na Região é essencialmente verificado no sector da hotelaria, que apresenta um aumento de 74%, e nos serviços, com um aumento de 46,1%. Verifica-se, contudo, que o aumento em termos absolutos é mais evidente no sector dos serviços, atingindo os 190 milhões de euros. Dentro deste sector, a promoção imobiliária e a compra e venda de bens imóveis são responsáveis por um aumento de 74 milhões de euros, ou seja, representam 40% do aumento verificado nos serviços. No sector do comércio, verifica-se um aumento absoluto de 153 milhões de euros, sendo que 76 milhões de euros (o equivalente a 49% do aumento) dizem respeito ao sub-sector do comércio a retalho de combustíveis (aumento de 40 milhões de euros), do comércio de veículos automóveis ligeiros (mais 24 milhões de euros) e do comércio a retalho de produtos farmacêuticos (mais 11 milhões de euros).

Apesar de positivos, Sérgio Jesus faz uma leitura crítica destes indicadores: “Infelizmente, a conclusão não é a mais satisfatória, pois os subsectores que apresentam crescimento em 2021 não correspondem a sectores produtivos com capacidade e efeito multiplicador na economia. São sectores com baixo índice de criação de valor acrescentado, sendo que esses são os carecem de impulso maior, e encontram-se ainda muito débeis, com taxas de crescimento estéreis, de 1,2%, como é o caso da indústria”. São por isso bem-vindos os esforços como o de reduzir a pegada fiscal, e o de rejuvenescer o Código Fiscal ao Investimento da Região, criando estímulos evidentes e producentes a quem se queira estabelecer na Região, e criar valor efetivo a partir daqui.

O porta-voz da organização explicou que o sector do imobiliário acabou por beneficiar da forte retoma do Turismo, pois “aliou a este a apetência de investimento em imóveis na Região, confirmando a evolução que já se verificava em plena pandemia”. Sobre a evolução deste sector, Sérgio Jesus recomendou “uma imperativa reflexão por parte de quem gere os destinos da Região”, já que “as moratórias impediram a rotação de imóveis de volta ao mercado, por via de incumprimento das suas prestações de financiamento, impeliram o preço do imobiliário para níveis nunca vistos, e cada vez menos suportados pela comunidade local, que cada vez mais concorre com interessados com outros argumentos e agendas, num número reduzido de oferta imobiliária”. Ainda nesta linha, considera que “devia-se ajustar os referenciais para obter os vistos Gold para valores que não constituam ameaça ao poder de compra do cidadão regional, seleccionando de forma inequívoca, quem desejamos que connosco partilhe o nosso território, cada vez mais exclusivo e limitado”.

Voltando à retoma e à análise dos números, Sérgio Jesus referiu que “são visíveis alguns aspectos menos auspiciosos que já eram latentes na era pré pandemia, mas que com a pandemia e consequente recuperação tornaram-se evidentes e passíveis de reflexão, pois revelam um condicionamento e fragilidade da economia regional”.

Com o secretário regional da Economia a assistir à cerimónia, Sérgio Jesus deixou várias recomendações aos responsáveis públicos. No plano dos apoios e estímulos ao sector empresarial privado, “o que se deseja no sector privado é ter confiança nas instituições e estabilidade no plano legislativo”, além de “um esforço evidente na redução da pegada fiscal” logo no primeiro semestre de 2023. Os empresários aguardam também por um novo programa operacional de apoios às empresas. No plano do emprego, consideram que “o subsídio de desemprego não deveria ser atribuído sem qualquer contrapartida, deveria, sim, ser entregue às empresas que desejassem contar, ainda que de forma precária, com esses activos sem ocupação”. “O desafio será agora o de monitorizar o fulgor da economia e dos seus ‘players’, ajustando os meios e os apoios disponibilizados aos estados-membros, para que se possa garantir uma retoma plena, concretizando as promessas e meios disponibilizados pelo Plano de Recuperação e Resiliência, bem como os fundos ao abrigo do REACT e próximo Programa Operacional, e assim se consiga embalar a economia, com o apoio claro ao investimento produtivo e reprodutivo, resolvendo na embalagem, os problemas estruturais que a Região sofre e são por demais identificados, como são os elevados custos de contexto, num imperativo de aumento da resiliência do território, e espalhar o investimento público pelo máximo de players do sector privado, evitando concentrações nefastas para um ambiente particularmente frágil, como é o da RAM”, adiantou.

De resto, o administrador da ECAM assinalou que na “linha de progressão e inovação que marcaram as últimas edições, a 33.ª edição das 500 Maiores e Melhores Empresas da Madeira assume-se como um contributo efectivo para a maturidade e afirmação do sector empresarial regional, trazendo ao ecossistema económico da Região, uma contextualização eminentemente técnica, permitindo ao seu tecido económico, de base micro e PME familiar, a oportunidade de assimilar consecutivamente princípios de ‘governance’ e de reporte financeiro, face a uma maior convivência e afirmação em mercados externos, bem como reforçar as relações comerciais com uma cadeia de valor que cada vez mais se estende para lá dos nossos limites territoriais”. Sérgio Jesus elogiou o trabalho de análise da Informa D&B na análise dos dados da actividade empresarial e agradeceu o apoio dos patrocinadores (Santander, NOS Madeira e Grupo Pestana) e do parceiro de comunicação TSF.