A produtividade das empresas e a vontade dos trabalhadores
A produtividade empresarial em Portugal mantém-se afastada dos valores dos nossos pares Europeus. Todos os anos a discussão repete-se com a culpabilização inadequada nos trabalhadores e na sua motivação e disciplina (ou falta de) para uma entrega total às tarefas da empresa.
Talvez motivados por um complexo de inferioridade, estas discussões acabam por se cristalizar numa situação de nós contra eles, em que de um lado estão os sérios e motivados nórdicos e, do outro, estão os desleixados e indisciplinados europeus do Mediterrâneo.
Tenho-vos a dizer que não acredito que os suecos troquem mensagens com amigos ou visitem redes sociais no seu horário de trabalho a um ritmo inferior do que os portugueses. Aliás, sei que não é verdade pois já trabalhei em equipas internacionais e as pessoas são extremamente semelhantes nos seus hábitos. Uns vêm notícias de futebol, outros estão a ver mercados de usados, mas o tempo perdido é o mesmo.
Sabem quais eram os comentários mais comuns dos meus colegas internacionais quando trabalhavam em projetos nacionais?
1 – Porquê é que isto é feito manualmente?
2 – Porquê é que não está definido quem faz o quê neste projeto?
A resposta a estas duas perguntas diz-nos o que eu considero serem os dois fatores mais relevantes para a relativa baixa produtividade portuguesa.
O primeiro ponto é respondido pela clara falta de capital das empresas portuguesas face aos seus pares europeus. Este fator reproduz-se numa falta de capacidade de desenvolver ou adquirir ferramentas de automatização, obrigando grande parte do trabalho a consumir um número pouco eficiente de horas de trabalho humanas.
Impossibilita também que as empresas sejam, em muitos casos, inovadoras a nível internacional, sendo a inovação nacional feita a reboque daquilo que se faz lá fora (ficando o país privado dos ganhos de capital da inovação patenteável). O baixo número de patentes e de registo de propriedade industrial/intelectual em Portugal evidencia esta dificuldade.
Os impactos destes problemas são majorados pelo facto de o tecido empresarial ser dominado por micro e pequenas empresas o que implica que o capital, para além de pequeno, esteja disperso.
Acredito que a segunda questão é ainda um reflexo da pesada herança do Estado Novo em Portugal e do seu impacto na literacia portuguesa. Portugal, apesar da sua forte recuperação nas últimas décadas, continua a apresentar uma força laboral comparativamente pouco formada. Esta falta de formação relativa evidencia-se em diversos processos de organização e gestão.
Esta falta de qualificações manifesta-se a todos os níveis da cadeia produtiva, valendo de pouco uma empresa investir fortemente na qualificação dos seus profissionais superiores se o resto da cadeia não tiver capacidade de seguir as novas instruções possibilitadas pelo conhecimento adquirido pelos quadros superiores.
De igual forma, não é por uma empresa portuguesa ter muito capital e uma força laboral altamente qualificada que deixa de ser afetada por estes problemas. As empresas operam num ecossistema e terá que lidar com clientes, parceiros e fornecedores que, frequentemente, terão dificuldades em acompanhar os desenvolvimentos do setor da forma desejada para que uma empresa se torne líder internacional.