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Consórcio de IA Responsável liderado por Unbabel investe 78 M€ em Portugal

Foto Shutterstock
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Um "grande consórcio" de inteligência artificial (IA), liderado pela Unbabel, vai investir 78 milhões de euros e criar mais de 210 postos de trabalho em Portugal, disse o vice-presidente de inovação de produto, Paulo Dimas, à Lusa.

O consórcio liderado pela Unbabel, plataforma portuguesa baseada em IA de 'Language Operations' (LangOps) vai ser anunciado hoje durante a Web Summit.

Trata-se da "criação de um grande consórco de inteligência artificial responsável", a qual "vai ser à escala mundial, talvez, o maior consórcio nesta área", explicou à Lusa Paulo Dimas, da Unbabel.

E porquê o lançamento deste consórcio? "Porque é que esta área é estratégica neste momento em que vivemos, porque a inteligência artificial tem uma série de riscos", nomeadamente em termos de preconceitos, discriminando indivíduos quer devido ao género, quer do ponto de vista étnico, "e alimenta-se de dados gerados por pessoas e, no fundo, reflete todos os 'biases' [preconceitos] da nossa sociedade que estão nos produtos de inteligência artificial", argumentou Paulo Dimas.

"E isso está a ser uma barreira muito significativa ao avanço da área e ao lançamento de certos produtos", apontou o responsável.

Por outro lado, "em certas áreas, que é uma das áreas fortes do consórcio, que é a das ciências da vida ('life sciences') - temos entre os consórcios dois hospitais e a Bial" como parceira industrial - "existem riscos muito grandes para a aplicação da inteligência artificial em determinados domínios", prosseguiu, salientando que se for traduzida mal uma determinada palavra isso pode mudar o sentido da frase e pôr em risco a vida de uma pessoa.

Estes "são riscos muito grandes que estão a ser regulados a nível da União Europeia", salientou, referindo que isso é importante.

O consórcio "vai permitir posicionar Portugal na vanguarda da inteligência artificial responsável, é o maior consórcio a nível global", sublinhou, salientando que este "vai investir no total 78 milhões" de euros para "um incentivo na casa de 51 milhões" do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).

Está previsto que o consórcio "tenha um impacto na economia portuguesa de 250 milhões de euros em exportações até 2030, resultado do desenvolvimento de 21 novos produtos de IA. Além disso, irá criar mais de 210 postos de trabalho altamente qualificados e atribuir 132 graus académicos avançados, nomeadamente, mestrados e doutoramentos", de acordo com a Unbabel.

O consórcio é composto por 11 'startups', dos quais dois unicórnios: Unbabel, Feedzai, Sword Health, Apres, Automaise, Emotai, NeuralShift, Priberam, Visor.ai, YData e YooniK, oito centros de investigação de Lisboa, Porto e Coimbra (Fundação Champalimaud, CISUC, FEUP, Fraunhofer Portugal AICOS, INESC-ID, IST, IST-ID/ISR e IT), uma sociedade de advogados (Vieira de Almeida) e ainda cinco líderes de indústria em Ciências da Vida, Turismo e Retalho (Bial, Centro Hospitalar de São João, Luz Saúde, Grupo Pestana e Sonae).

"A ideia nasceu entre a Unbabel e a Feedzai, foi aqui ao pé" da Web Summit, "depois temos a a Sword Health, e depois temos oito 'startups' mais pequenas e que para elas esta é uma oportunidade incrível de crescer rapidamente neste contexto e neste ecossistema que vai ser muito rico e que vai também incluir oito centros de investigação do Porto, Coimbra, Lisboa, dos mais avançados" de IA que vão estar a trabalhar" neste âmbito, sublinhou Paulo Dimas.

"Juntámos também um conjunto de pessoas", entre os quais está o professor António Damásio, que vai colaborar numa das áreas que o consórcio vai explorar, que é "a interceção entre a inteligência artificial e as neurociências".

Paulo Dimas salienta que o consórcio vai ter produtos desta tradução, que é a área da Unbabel, por exemplo, até produtos mais vocacionados para as ciências da vida "que vai permitir acelerar os ensaios clínicos".

Entre estes 21 produtos, há também dirigidos para reabilitação remota, até na área financeira, incluindo "projetos a olhar mais para o futuro", continuou.

"Temos um produto que temos pensado desenvolver que vai permitir a pessoas com ELA - Esclerose Lateral Amiotrófica comunicarem com as suas famílias, vamos criar um tradutor que vai conseguir transformar essa fala interior que essas pessoas têm - falam dentro da cabeça delas -, traduzir essa linguagem silenciosa numa linguagem que as famílias possam entender", partilhou o responsável.

Paulo Dimas destacou a importância do PRR.

"Não conseguiríamos avançar para este tipo de produtos se não tivéssemos este tipo de investimento. Nos próximos três vai fazer a diferença", rematou.

O consórcio tem três pilares centrais que podem ser resumidos como a justiça de não haver preconceitos/eliminação de preconceitos; a IA poder explicar porque toma determinadas decisões; e a sustentabilidade (em termos de eficiência energética).

Por sua vez, Pedro Bizarro, cofundador e 'chief science officer) da Feedzai salienta que este consórcio "representa um nível de colaboração único a nível nacional e internacional", citado em comunicado.

"São 11 'startups', uma sociedade de advogados, oito centros de investigação e cinco parceiros industriais que se uniram para, em colaboração, desenvolver novas formas de inteligência artificial mais responsável, ou seja, IA menos enviesada, mais explicável, mais eficiente e amiga do ambiente. Com orçamento para a formação de mais 132 mestres e doutorados, e com aplicação e impacto em várias indústrias, este é um projeto único a nível mundial e que me enche de orgulho em participar", remata.

Já António Portela, presidente executivo da Bial, também citado em comunicado, salienta que o "consórcio irá permitir à Bial trazer os seus desafios em inteligência artificial para um universo de 'startups' e centros de investigação avançados, criando sinergias únicas que nos permitirão competir globalmente em IA, acelerando a descoberta e desenvolvimento de novos medicamentos".

O conceito de IA Responsável é um termo que reflete o desenvolvimento de sistemas de IA justos que reduzem o preconceito e o impacto negativo da tecnologia para grupos discriminados.