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Centenas de detidos por manifestações no Chade começaram a ser julgados

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O julgamento coletivo dos 401 manifestantes detidos durante a violência política desencadeada em 20 de outubro no Chade, de que resultaram pelo menos 50 mortos e mais de 300 feridos, iniciou-se ontem em N'Djamena.

Os arguidos respondem a acusações de reunião não autorizada, destruição de propriedade, incêndio criminoso, violência e agressão e perturbação da ordem pública, anunciaram na sexta-feira o Tribunal Superior de N'Djamena e o portal de notícias Tchadinfos.

A secretária da Ordem dos Advogados do Chade, Koulmen Nadjiro, garantiu na véspera que não compareceriam às audiências, alegando que o julgamento decorre numa prisão "sem acesso à população", pelo que se trata de "uma dupla repressão", de acordo com o portal de notícias Alwhida.

Os protestos, que segundo organizações internacionais provocaram pelo menos a morte de 50 pessoas e 300 feridos, eclodiram depois de a junta militar no poder ter decidido prolongar por mais dois anos o mandato de Mahamat Idriss Déby, que inicialmente planeava renunciar para devolver o poder a um governo civil.

O líder da junta militar do Chade já havia descrito os protestos como uma "insurreição organizada" apoiada por "potências estrangeiras" e acusou os manifestantes de "assassínio de civis a sangue frio e de membros das forças de segurança" com o objetivo de desencadear uma "guerra civil".

O julgamento decorre na prisão de alta segurança de Koro Toro, no meio do deserto, a mais de 600 quilómetros a nordeste da capital.

Em 20 de outubro, milhares de pessoas concentraram-se em vários pontos do país a pedido da oposição para protestos contra a manutenção no poder, por mais dois anos, do general Mahamat Idriss Déby Itno, proclamado chefe de Estado pelos militares em 20 de abril de 2021.

O general Mahamat Idriss Déby Itno foi proclamado Presidente após o anúncio da morte do pai, o Presidente Idriss Déby Itno, morto quando combatia os rebeldes e após ter governado o Chade com mão de ferro por 30 anos.

A oposição, organizações não-governamentais (ONG) locais e internacionais, bem como parte da comunidade internacional, liderada pela União Europeia (UE) e pela União Africana (UA), condenaram firmemente o uso excessivo de violência "contra civis" na repressão dos protestos.

Até agora, as autoridades reconheceram apenas "cinquenta" mortes a tiros e mais de 300 feridos apenas no dia 20 de outubro, incluindo "dez mortos" entre as forças policiais, mas a oposição e as ONG acreditam que o número é muito superior.

As audiências realizar-se-ão até 04 de dezembro, anunciou na sexta-feira a Procuradoria-Geral.

Poucos dias depois das manifestações, as autoridades acabaram por reconhecer a detenção de 621 pessoas só em N'Djamena, incluindo 83 menores, todos transferidos para a prisão de Koro Toro.