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Curdos pedem ajuda a Moscovo e ONU adverte para perigo de nova guerra civil

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As forças curdas sírias pediram hoje à Rússia para dissuadir a Turquia de uma ofensiva terrestre, enquanto a ONU advertiu para o risco da atual escalada levar ao reinício a guerra na Síria, após três anos de alguma acalmia.

Numa conferência de imprensa virtual a partir de Qamichli, no nordeste da Síria, o líder das forças curdas sírias, Mazloum Abdi, assegurou, contudo, que as Forças Democráticas Sírias (FDS) defender-se-ão se a Turquia lançar uma ofensiva terrestre.

Desde 20 deste mês que Ancara está a efetuar uma série de ataques aéreos no nordeste da Síria contra posições dos combatentes curdos, membros de grupos descritos pela Turquia como "terroristas".

Na semana passada, o próprio Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, reiterou a intenção de ordenar, "quando chegar a hora", uma ofensiva terrestre e reafirmou que o objetivo é estabelecer um "zona de segurança de oeste a leste" ao longo da fronteira com a Síria.

Sábado, Abdi, comandante-em-chefe das FDS, reuniu-se com o homólogo das forças russas na Síria, general Alexandre Chaiko, no aeroporto militar de Qamichli (nordeste), a quem apresentou um pedido de ajuda 

"Pedimos-lhe que convençam os turcos a parar com os ataques. É claro que os turcos [...] estão a preparar-se" para uma ofensiva terrestre, salientou o líder militar curdo, que adiantou que Moscovo, aliada do regime sírio de Bashar al-Assad (os Estados Unidos apoiam os curdos sírios), já pediu "contenção" a Ancara.

"[Se a Turquia cumprir as ameaças], seremos forçados a expandir o alcance desta guerra" para abranger toda a área de fronteira, alertou Abdi, que lamentou a posição de Washington, considerando-a "fraca". 

A Turquia lançou os ataques após um atentado que, a 13 deste mês, matou seis pessoas e feriu dezenas de outras em Istambul, acusando os curdos de estarem por trás do incidente, em que a FDS rejeitou qualquer envolvimento.

Entretanto, em Nova Iorque, as Nações Unidas pediram hoje à Turquia e às forças curdas na Síria que cessem imediatamente os combates e, apelando à paz, advertiram para o risco de os atuais confrontos armados poderem desencadear outros movimentos, permitindo um reinício da guerra civil na Síria após três anos de relativa acalmia.

"A tendência de novos conflitos é muito preocupante e pode trazer perigos reais de uma escalada ainda maior no conflito", disse o enviado especial da ONU para a Síria, Geir Pedersen, ao falar no Conselho de Segurança.

Nesse sentido, o diplomata pediu à Turquia e às Forças Democráticas da Síria (FSD) que reduzam a tensão atual.

Pedersen alertou para a possibilidade de as "operações militares em grande escala por parte de um dos contendores terem efeitos colaterais noutras áreas.

"Uma escalada não apenas aumentaria os danos devastadores já causados aos civis sírios, mas também colocaria em risco a estabilidade regional e permitiria que grupos terroristas, contidos, mas não derrotados, tirassem vantagem imediatamente da nova instabilidade", advertiu o diplomata norueguês.

A este respeito, lembrou que Idlib, o último reduto rebelde no noroeste da Síria, foi recentemente palco de "vários incidentes preocupantes", com ataques perpetrados por forças pró-governamentais sírias e por grupos terroristas presentes na zona, e que toda a zona foi ainda alvo de ataques israelitas em território sírio e confrontos na fronteira com o Iraque.

"Sinto que estamos numa encruzilhada. Estou preocupado com a perspetiva de uma retoma de grandes operações militares após três anos de relativa acalmia", insistiu.