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Idadismo

Em 1969, o psicólogo norte-americano Robert N. Butler usou o termo “idadism” para tentar explicar as opiniões contrárias à construção de uma habitação para idosos em uma comunidade local.

O psicólogo concluiu que o descontentamento manifestado pelos moradores da zona se devia ao facto da habitação se destinar a pessoas da chamada “terceira idade”. Butler considerava não haver nenhuma razão para a manifestação de tal descontentamento, porque os futuros vizinhos não representariam nenhum tipo de ameaça ao convívio social.

Na interpretação de Butler, os residentes acreditavam que o facto iria desvalorizar os terrenos à volta.

A partir daí, o termo “idadismo” como expressão de um preconceito relacionado com a idade, passou a ser utilizado em diversos países e em diferentes contextos. Aplicado tanto a idosos como a jovens vítimas de descriminação em função da idade.

O tipo de situação enunciada, tanto pode ser encontrada em ambiente social como em contexto profissional. Os jovens, muitas vezes, discriminados por serem jovens de mais e não terem a experiência requisitada para determinados cargos ou funções. Os mais velhos, por serem considerados ultrapassados e incapazes de aprender coisas novas, em especial, no que respeita às novas tecnologias.

Como todos os preconceitos: raciais, sociais, religiosos, quanto à orientação sexual, de gênero, linguístico, cultural e outros, a origem está quase sempre relacionada com o desconhecimento, a falta de empatia e o medo “do outro”.

A visão do idoso como um ser mais frágil e incapacitado, mesmo quando a evidência não o confirma, é comum tanto na sociedade como dentro da própria família. Tal comportamento, é uma forma de idadismo e pode gerar sentimentos de discriminação, baixar a auto-estima e impedir que as pessoas de mais idade façam a vida com a independência e a normalidade que lhes permitam as suas condições mentais e físicas.

O idadismo prejudica a saúde e o bem-estar e é uma grande barreira para que sejam sancionadas políticas eficazes e adotadas medidas que promovam o envelhecimento saudável, conforme reconhecem os Estados Membros da OMS na “Estratégia e Plano de Acção Global Sobre Envelhecimento e Saúde” e na “Década do Envelhecimento Saudável: 2021‒2030”.

Antigamente, em especial no oriente, os velhos eram tratados com respeito e reverência porque, devido à dificuldade de transmissão de conhecimentos, eram considerados os detentores do saber. Actualmente, com o aparecimento das tecnologias de informação, internet, redes sociais, facilidade extrema de comunicar e ter acesso à informação, toda a gente está secretamente convencida que pode aceder ao “conhecimento”, à distância de um “click”. Esta falsa convicção permite a proliferação de “fake news”, “teorias da conspiração”, inverdades repetidas “ad nauseam” (que passam a ser “verdades”) e a criação de uma realidade digital que de realidade…tem pouco.

O idadismo contem estereótipos, preconceitos e discriminação, direccionados às pessoas, com base na idade. Piora a qualidade de vida das pessoas idosas, aumenta o seu isolamento social e a sua solidão.

Chegámos à época da “pós-verdade”, da “cultura de pacote” da falta de contraditório, da ausência de fundamentação, da dificuldade em distinguir o que é falso do que corresponde a um módico de realidade.

Isto acontece em todos os aspectos da vida, desde a falsa ciência, à economia, à política ou ao convívio social. Os “trumps” deste mundo cavalgam a onda. As pessoas estão anestesiadas pelo bombardeamento constante de “notícias” que lhes despertam a necessidade de contínuas “novidades”. Se não nos precavermos, se não tivermos disto consciência, os tempos que se avizinham não serão muito desejáveis.