Pôs-se a jeito!
Fere-me os ouvidos, o coração, a alma, ouvir comentários machistas, de adultos, a falarem de mulheres e raparigas, que usam um decote mais arrojado, uma saia mais curta, uns saltos mais altos... Principalmente quando são adultos emocional e empaticamente iletrados, muito limitados no seu conhecimento sobre vínculo e desenvolvimento humano. É cruel escutar: “pôs-se a jeito” sempre que uma mulher é violada, mal tratada, sempre que lhe é retirada a dignidade!
A violência contra meninas, raparigas e mulheres é a violação dos Direitos Humanos que mais persiste no mundo inteiro. 81.100 mulheres e meninas foram mortas intencionalmente em 2021!! Todas as formas de violência com base no género, são uma realidade diária da nossa humanidade. A desigualdade de género é um problema estrutural que põe em perigo a vida de milhares de mulheres, todos os dias, em todo o mundo. Portugal não é exceção!
Portanto, acredito que, refletir e falar do problema é ganhar consciência e agir, no sentido de encontrar a solução. E é por isso que também acredito no poder da essência da equidade. Acredito, não por ser mulher, não por ser mãe de duas raparigas, mas porque é sobre Direitos Humanos, Direitos das Mulheres, Direitos das Crianças, Direitos dos Homens, Direitos do Heterossexuais, Direitos dos Homossexuais, Direitos do Transgénero. E por ser um conceito tão universal, uma forma de criar paz e harmonia no mundo ainda incomoda os que insistem viver presos a crenças culturais, sociais e religiosas castradoras das liberdades individuais. Enquanto continuarem os discursos políticos sexistas e violentos contra as mulheres, enquanto persistirem as desigualdades salariais entre homens e mulheres que desempenham as mesmas funções, enquanto no topo dos grandes palcos políticos e empresariais forem os homens a ocupar os lugares de cimeira, enquanto nos infantários e nas escolas do primeiro ciclo continuarem a ser as mulheres em maior destaque e na maioria dos lares continuarem a ser as mães a assumir a gestão da família, a educação dos filhos, cozinhar, lavar roupa, engomar, enquanto nos anúncios o homem aparecer como uma figura máscula e a mulher frágil e dependente, enquanto continuarem a existir redes de escravatura, prostituição e tráfico de mulheres e meninas ... ainda há caminho a percorrer. Partilho da sugestão de Michelle Obama: “os homens, em todos os países, têm que olhar para os seus corações e almas e perguntarem-se a si mesmos, se, realmente, olham para as mulheres e as tratam com igualdade.”
Eduque-se!
Partilho alguns exemplos práticos, úteis numa sociedade que se quer desenvolvida:
· Nunca obrigar uma criança a beijar ou a abraçar alguém contra a sua vontade. Caso contrário acreditará que o terá de fazer ao longo da vida e isto pode, por exemplo, impedir que se defenda em caso de tentativa de abuso;
· Educar sem palmadas, sem castigos, ameaças e sem chantagens, ou a criança vai acreditar que alguém, mais forte do que ela tem direitos sobre si própria, que ela não é dona do seu corpo, nem da sua vontade. Além disso, um dia, a mesma criança pode ser o elemento mais forte e vai comportar-se como o exemplo que recebeu, assumindo que não tem que não respeitar o próximo. Um dos principais problemas com o castigo e a punição é que a ideia de que as crianças aprendem com ambos é falsa. Ou melhor, não aprendem que é importante fazer o bem porque é mais saudável para elas e para os outros. Aprendem, no entanto, a ter medo, a sentir que não têm valor, que são inadequadas, podem começar a acreditar que as suas necessidades não devem ser satisfeitas, podem aprender que o que os outros acham é sempre mais importante, que a expressão de emoções é perigosa, que não devem mostrar os seus limites… e por aí fora.
· Escutar e observar as emoções, opiniões, desejos, necessidades das crianças, sem julgamentos e com presença. Com limites que façam sentido a todos, com igual dignidade, valor e em amor incondicional.
· casal partilha as tarefas domésticas, as questões relacionadas com a educação dos filhos, com a gestão da família. Cansa ouvir dizer “ele até ajuda em casa”. Ele faz uma parte do trabalho que implica ter casa, família e uma vida em comum. E se a mulher se sente muito assoberbada, então talvez seja hora de rever a gestão do projeto família.
· Homens e mulheres podem desempenhar as mesmas funções, ocupar os mesmos cargos, independentemente da cor, religião, orientação sexual.
Que nos possamos por em causa e assumir responsabilidade pessoal por aquilo que podemos fazer diferente e da forma como podemos influenciar.