Ex-secretário alerta que "sem acesso à saúde não vale a pena ter grandes hospitais"
O ex-secretário regional da Saúde e médico Manuel Brito afirmou, esta manhã, nas jornadas do JPP, que a dificuldade da população em aceder aos serviços de saúde em tempos aceitáveis "é a grande fragilidade do nosso sistema de saúde" e que se trata de um problema transversal, que afecta "não só a Madeira, como o continente e toda a Europa".
"É uma preocupação que não é fácil de resolver mas que, a pouco e pouco, com certeza que se irão encontrar algumas soluções, porque se não tivermos acesso à saúde não vale a pena termos grande medicina em grandes hospitais. É um problema grave, que atravessa toda a Europa e há países que estão pior do que nós, como o Reino Unido. Mas que tem que estar em cima da mesa. Nós temos de garantir a cada cidadão que, quando precisar, vai ter acesso aos cuidados de saúde", declarou o profissional no encontro realizado em Santa Cruz.
Manuel Brito assumiu que "estamos a viver uma crise grande no Serviço Nacional de Saúde (SNS)" mas sublinhou que "há uma luz ao fundo do túnel" e que deposita "alguma esperança" nas alterações que deverão ser introduzidas pela nova direcção executiva do SNS liderada pelo médico Fernando Araújo.
Brito aproveitou este evento para partilhar a sua preocupação com "o problema gravíssimo da catástrofe demográfica" que Portugal está viver, com a natalidade a baixar e o envelhecimento a aumentar, com a esperança média de vida nos 81 anos. "A Madeira penso que até é a região com a natalidade mais baixa no país, o que é mau", observou. Esta tendência demográfica "já está a descompensar" o equilíbrio social, com "o país a correr o risco das novas gerações não conseguirem sustentar os cuidados de saúde e as reformas dos mais velhos". "Se não há um equilíbrio e uma renovação de gerações, isto amanhã o sistema é totalmente insustentável", alertou. A este respeito, o médico considera que as "autarquias devem fazer qualquer coisa" e criar condições para que os jovens poderem fixar-se e terem filhos, o que pode começar pela promoção da habitação a custos acessíveis.
Manuel Brito rejeitou qualquer interpretação da sua aproximação ao JPP em virtude da sua participação nas jornadas parlamentares desta força política. Aliás, garante que está disponível em iniciativas congéneres de "outros partidos da esfera democrática".
Nos últimos anos, Manuel Brito esteve a exercer a sua profissão em Lisboa, mas é provável que venha a transferir a sua actividade para a Madeira a partir de 2023. O médico considera que o seu "berço foi Coimbra" mas que a Madeira é a sua "casa".