Mundial'2022 Desporto

Primeira ronda totalizou 226 minutos de compensação à média de 14,1

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Foto Shutterstock

As 16 partidas da jornada inaugural do Mundial2022 de futebol, disputadas de domingo a quinta-feira, totalizaram 226 minutos de compensação, numa média de 14,1 por desafio, face à intenção da FIFA de elevar o tempo útil de jogo.

De acordo com a informação exposta no sítio oficial do organismo na Internet, a goleada (6-2) da Inglaterra ao Irão, liderado pelo português Carlos Queiroz, na segunda-feira, do Grupo B, bateu o recorde de 'descontos' em 22 edições da prova, ao durar 119 minutos.

O árbitro brasileiro Raphael Claus concedeu 29 minutos, similares a um prolongamento, dos quais 15 na primeira parte, que foi condicionada pela assistência médica ao guarda-redes persa Alireza Beiranvand, e 14 na segunda, quando houve recurso ao videoárbitro (VAR) para confirmar um penálti para os asiáticos, que o portista Mehdi Taremi marcou.

Uma lesão idêntica de Yasser Al-Shahrani já nos instantes finais também contribuiu para arrastar durante 111 minutos o sensacional êxito da Arábia Saudita sobre a Argentina (2-1), no Grupo C, com sete minutos de 'descontos' na etapa inaugural e 14 no segundo tempo.

Na véspera do início do Mundial2022, a decorrer no Qatar até 18 de dezembro, o italiano Pierluigi Collina, ex-árbitro internacional e atual presidente do Comité de Arbitragem da FIFA, de 62 anos, já tinha advertido que o "respeito pelos espetadores e telespetadores" levaria o regulador do futebol mundial a tomar medidas drásticas na duração dos duelos.

"Queremos evitar que o jogo tenha 42, 43 ou 44 minutos de tempo útil. Por isso, o tempo utilizado para efetuar substituições, marcação de grandes penalidades, festejos de golos, assistência médica e para recorrer ao VAR deve ser devidamente compensado", apelou.

Essa nova abordagem vulgarizou 'descontos' inusitados, cujos exemplos mais discretos foram os encontros Marrocos-Croácia (0-0), Suíça-Camarões (1-0), Brasil-Sérvia (2-0) e Uruguai-Gana (0-0), todos ocorridos em 100 minutos (10 acima dos 90 regulamentares).

As restantes 12 partidas suplantaram essa fasquia, incluindo o êxito de Portugal sobre o Gana (3-2), na quinta-feira, do Grupo H, que repercutiu os 14 minutos de 'descontos' do Senegal-Países Baixos (0-2) - três a caminho do intervalo e 11 na reta final -, com ambos os confrontos a dividirem o sétimo lugar no ranking de durabilidade na ronda inaugural.

"É preciso pensar da seguinte maneira: se forem marcados três golos durante uma parte, provavelmente, serão perdidos quatro ou cinco minutos nos festejos até que o jogo seja retomado", exemplificou Collina, defendendo que "esse tempo tem de ser compensado".

Se os primeiros tempos proporcionaram 81 minutos de 'descontos', numa média de 5,06 por jogo, as metades complementares quase duplicaram a estatística, com 145, à média de 9,06, distanciando o Mundial2022 do padrão notado em edições anteriores da prova.

Por norma, os árbitros costumavam acrescentar entre um e dois minutos no desfecho da etapa inicial, mais três a cinco no ocaso do duelo, numa 'era' em que estavam previstas três substituições, ao passo que o sistema de VAR apareceu há quatro anos, na Rússia.

O Qatar está a albergar a primeira edição do torneio com a possibilidade de cada equipa efetuar cinco alterações regulamentares em três momentos diferentes, estando também acautelada uma adicional em caso de futebolistas com suspeitas de concussão cerebral.

Esse episódio deu-se na segunda-feira com o iraniano Alireza Beiranvand, antigo guarda-redes do Boavista, que ainda tentou permanecer em campo depois de ter chocado com o compatriota Majid Hosseini, gerando uma pausa inicial de oito minutos, dos oito aos 16.

A partida dos persas com a Inglaterra estaria novamente parada alguns instantes depois, entre os 17 e os 20 minutos, quando o 'guardião' solicitou a sua substituição e deixou o relvado de maca, com Carlos Queiroz a promover a primeira de seis mexidas realizadas.

A inflação substancial do tempo atribuído pelos árbitros para compensar interrupções no Mundial2022 vai agudizar o desgaste dos futebolistas, que tiveram apenas uma semana em vez das habituais três para preparar uma inédita edição do Mundial em plena época, perante uma alta densidade de jogos das provas de clubes num curto espaço de tempo.

A condição física das 32 seleções, que puderam alargar as convocatórias de 23 para 26 atletas, pode ser colocada à prova de forma ainda mais extrema depois da primeira fase, quando as eliminatórias acarretarem a eventualidade de se disputarem prolongamentos - que autorizam uma substituição adicional - e até desempates por grandes penalidades.