Se fosse só a TAP
“Desastre” é também a displicência com que o poder encara os problemas que afectam a qualidade de vida dos madeirenses
Boa noite!
A TAP não voa a 8 e 9 de Dezembro. A greve obrigou já ao cancelamento dos 360 voos da companhia e nem as ilhas, antes benignamente protegidas, serão abrangidas por serviços mínimos. Miguel Albuquerque protesta, e com razão, perante um “desastre” numa empresa com participação pública e que, a exemplo de outras instituições governamentais, “não funciona bem”.
O problema é que o “desastre” não é um exclusivo da TAP, nem de outros serviços que estão nas mãos da República, como os consulados, os hospitais e as polícias. Na Região também há “desastres” vergonhosos e absurdos sem emenda que ofuscam o brilho das prestigiadas estrelas Michelin na restauração gourmet, que atentam contra a cagança de sermos no mundo e arredores o melhor destino insular e de cruzeiros, que concorrem com o esplendor da ilha que se exibe ao mais alto nível em Times Square! de braço dado com o nosso melhor de todos os tempos. Exemplos não faltam.
Os ratos multiplicam-se pela ilha. Assumem as autoridades locais que a culpa é do abandono dos terrenos, da falta de limpeza das zonas baldias, da acumulação de lixeiras e da redução de inimigos predadores. Mas quando se esperava que fossem consequentes e severos perante os que prevaricam e são cúmplices dos roedores, por desleixo ou vil cidadania, optam por distribuir toneladas de raticida. Um desastre nunca vem só.
Faltam 378 remédios na farmácia do Hospital. A ruptura representa 14% da lista hospitalar de medicamentos, mas quem tutela a Saúde na Região culpa a guerra, o Infarmed e o sistema. À conta deste problema, uma idosa esteve dois meses à espera de medicação para a qual havia alternativa. Como pelos vistos também nada de anormal se passa na Ortopedia, e vão dois desastres embrulhados em desculpas de mau pagador.
Um restaurante é assaltado 2 vezes em 4 dias, com os ladrões a comerem sobremesas e a levarem dinheiro. Várias viaturas são vandalizadas num parque de estacionamentos. Os carteiristas passeiam-se como turistas. Os roubos, furtos e afins assumem contornos preocupantes e alguma malta bate palmas porque o computador da junta foi recuperado, porventura sem disco rígido. Mas onde anda a sobremesa? E como se suaviza o cagaço? Três desastres não pagam dívidas, nem estragos.
Ficava a noite inteira neste exercício de levantamento de desastres à escala regional e ainda metia ao barulho o plano de contingência no Aeroporto da Madeira, agora com uma proposta aprovada que é contrária às conclusões do grupo de trabalho sobre a operacionalidade do mesmo. Ou chamava à pedra os iluminados que definiram com base num inusitado estudo de mercado que só pode haver 40 viaturas TVDE na Região. Ou perguntava outra vez – desculpem a insistência! - sobre o que realmente se passa com os projectos aprovados a sistemas de incentivos que depois não são apoiados com o argumento de que já não existe mais verba, isto depois de as empresas terem feito investimentos a contar com esse dinheirinho prometido que afinal ou foi desviado ou nunca existiu. Ou então indagava sobre as últimas mexidas por explicar na cúpula da Segurança Social na Madeira. É muito. O melhor mesmo é abordar um “desastre” de cada vez.