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Surto de cólera já matou 80 crianças no Haiti

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Um surto de cólera no Haiti já matou pelo menos 80 crianças desde o início de outubro, agravando a crise no país, onde quase dois milhões de menores passam fome, alertou hoje a Unicef.

De acordo com o Ministério da Saúde haitiano, a cólera já matou mais de 200 pessoas desde que as primeiras mortes foram anunciadas, no início do mês passado, e outras 9.300 estão hospitalizadas, mas os especialistas acreditam que muitos dos casos ainda não foram notificados pelo, que o número real deverá ser muito superior ao registado.

"Cerca de 40% dos casos de cólera envolvem crianças, com nove em cada 10 casos relatados em áreas onde as pessoas passam fome", avançou o diretor da unidade de programas de emergência da Unicef (Fundo de Emergência Internacional das Nações Unidas para a Infância), Manuel Fontaine, que está a realizar uma visita ao Haiti.

"Temos de nos preparar para o pior", acrescentou, citado pela agência de notícias Associated Press.

Face à situação, a Unicef e o Governo do Haiti lançaram um apelo para angariar pelo menos 27 milhões de euros para ajudar a alimentar, hidratar e cuidar de 1,4 milhões de pessoas afetadas pela crise, número que estimam que aumente à medida que a desnutrição piora.

"A cólera e a fome são uma combinação letal, em que uma piora a outra", explicou Fontaine.

"Este é um grande desafio para nós", admitiu a diretora do departamento de cólera do hospital Gheskio, em Port-au-Prince, também citada pela AP.

Segundo Karine Sévère, os casos de desnutrição aumentaram pelo menos 40% nas últimas semanas, pelo que o hospital está empenhado em dar mais comida às crianças -- "sopa de manhã e arroz, feijão, carne e legumes à tarde" - para as ajudar a ganhar peso.

"É comida que poucos pais podem pagar", num país onde cerca de 60% da população ganha menos de dois dólares (1,93 euros) por dia, explicou.

O Governo do Haiti solicitou recentemente vacinas contra a cólera, mas há uma escassez mundial desta imunização, até porque 31 países registam atualmente surtos da doença.

Ainda assim, segundo Manuel Fontaine, o Haiti terá prioridade devido à situação precária já existente no país.

O primeiro surto de cólera no Haiti aconteceu em 2010, quando as forças de paz da ONU do Nepal introduziram a bactéria no maior rio do país através dos esgotos.

Na altura, quase 10.000 pessoas morreram e mais de 850.000 ficaram doentes.

Desta vez, a situação é ainda mais complicada, afirmou o diretor no Haiti da fundação internacional Food for the Hungry (Alimentar os que têm Fome, em tradução livre), Boby Sanders.

Segundo este responsável, quase metade dos doentes de cólera tem menos de 15 anos e luta para sobreviver devido ao agravamento da crise alimentar.

A situação é dificultada ainda mais por causa da violência crescente entre 'gangues', o que impede as organizações de ajuda de chegarem aos que mais precisam.