Mulheres Socialistas realçam papel feminino na história da Madeira
O Departamento das Mulheres Socialistas da Madeira promover, esta tarde, uma iniciativa no âmbito do ciclo 'Conversas sem Tabu', subordinada ao tema "Mulheres de rija têmpera", a uma reflexão sobre a importância das mulheres em eventos catalisadores de mudança na Madeira.
A líder das Socialistas Madeirenses, Mafalda Gonçalves, moderou este debate, reforçando que "o tema da igualdade se mantém actual, porque para lá dos passos positivos que já foram dados, continua a ser necessário obter igualdade nos direitos, nos deveres, no tratamento e igualdade no acesso à decisão e ao poder".
Mafalda Gonçalves ressalvou a importância das "mulheres que inspiram outras mulheres" e também de "não permitir que se apague o nome das mulheres que fizeram história e mudaram o curso desta".
A primeira oradora, Maria Irene Catanho, animadora sociocultural, destacou a importância das mulheres na Revolta da Ribeira Seca. A também autarca pela Junta Freguesia de Machico recordou várias lutas feitas pelas mulheres, salientando a importância do Padre Martins Júnior que, aquando da sua chegada à Ribeira Seca, "viu a capacidade de liderança das mulheres" e incentivou a que estas conquistassem o seu lugar na sociedade.
Numa outra revolta da história da Madeira, Margarida Relva recordou na primeira pessoa a Revolta das Águas na Lombada da Ponta de Sol, durante a qual perdeu a sua irmã, vítima da agressão policial durante os incidentes.
A professora aposentada de História destaca que a memória "é muito importante para salvaguardar o futuro e não repetir os erros do passado", lembrando que a Revolta das Águas se deveu a uma questão de justiça, quando as pessoas se aperceberam de que a água da Levada do Moinho a que tinham direito para regadio das suas terras seria desviada para a Levada Nova e que teriam de pagar por ela. A presença feminina nesta revolta levou a que as mulheres liderassem a revolta e, ao longo dos meses de tensão na Lombada, a maior parte dos presos foram mulheres.
“As pessoas tinham documentos que comprovavam os direitos de irrigação dos seus terrenos, e começaram a guardar a água, de forma a impedir que esta fosse retirada para a Levada Nova”, referiu.
Visivelmente emocionada, relembrou que, no dia fatídico dos conflitos de 1962, saiu de casa com a irmã, tendo ficado para trás com uma tia devido à dificuldade em fazer o percurso, na altura com vários precipícios. Ainda assim, ouviu os tiros à distância, apercebendo-se mais tarde de que a irmã, de 17 anos, tinha falecido nos confrontos.
Por fim, Sofia Finguermann revelou que a influência da mulher portuguesa na revolução de 25 de Abril inspirou as mulheres brasileiras a superarem e participarem activamente na luta contra a ditadura militar brasileira.
A escritora e produtora cultural oriunda do Brasil referiu que "as mulheres, enquanto grupo social, têm dificuldade em lutar pela igualdade, porque as conquistas dos trabalhadores não asseguram necessariamente os direitos das mulheres", mesmo reconhecendo a maior facilidade desta luta em democracia.
A escritora brasileira lembrou que, mesmo após a reforma agrária, a maior parte dos trabalhos agrícolas “curvados” eram para mulheres, mas que mesmo assim “elas não ganhavam o mesmo que eles”, situação que se mantém até a actualidade.
Para Sofia Finguermann, "as mulheres não devem ter uma visão de que os direitos adquiridos são direitos garantidos" e "urge continuar a lutar para que as mulheres não sejam afastadas dos locais de decisão".
“Tentam calar as mulheres de várias formas diferentes”, referiu a escritora, recordando Marielle Franco, activista brasileira assassinada em 2018.