Kiev retira civis de zonas reconquistadas por causa dos danos em infraestruturas
As autoridades ucranianas começaram a retirar civis das áreas recém-libertadas de Kherson e Mykolaiv por recearem que os danos provocados nas infraestruturas sejam demasiado graves para as pessoas suportarem as adversidades do inverno, anunciaram hoje responsáveis governamentais.
Os moradores das duas regiões do sul da Ucrânia, bombardeadas regularmente nos últimos meses pelas forças russas, foram aconselhados a mudarem-se para áreas mais seguras, nas zonas central e oeste do país, afirmou a vice-primeira-ministra da Ucrânia, Iryna Vereshchuk, acrescentando que o Governo fornecerá "transporte, alojamento e assistência médica".
A retirada de civis começou pouco mais de uma semana depois da reconquista pela Ucrânia da cidade de Kherson e áreas ao redor, em 11 de novembro.
A libertação da região da ocupação russa foi vista como uma grande vitória no campo de batalha, mas a necessidade de retirar os habitantes mostra que o país ainda vai enfrentar muitas dificuldades devido as bombardeamentos e aos danos provocados por estes em infraestruturas energéticas, sobretudo durante os meses mais frios do inverno.
As autoridades instaladas pela Rússia na região de Kherson também pediram hoje à população para abandonar uma área da margem leste do rio Dnieper, que Moscovo ainda controla, alegando existir um "alto nível de manobras militares" no distrito.
Desde que a Ucrânia recuperou a cidade de Kherson, a Rússia intensificou os ataques aéreos à rede elétrica e a outras infraestruturas, causando apagões generalizados e deixando milhões de ucranianos sem aquecimento, energia ou água, numa altura que o país começa a registar temperaturas mais baixas e neve.
De acordo com a operadora da rede estatal de energia, a Ukrenergo, são esperados hoje apagões durante quatro ou mais horas em 15 regiões ucranianas.
Mais de 40% das instalações de energia do país foram danificadas por mísseis russos nas últimas semanas.
No domingo, vários bombardeamentos abalaram a região de Zaporijia, local onde se situa a maior central nuclear da Europa, pelo que a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) pediu, de imediato, "medidas urgentes para ajudar a prevenir um acidente nuclear" na instalação ocupada pela Rússia.
Kiev e Moscovo culpam-se mutuamente pelos bombardeamentos na região, depois de semanas de relativa calma.
A área tem sido palco de combates desde que as forças russas ocuparam a central, logo após a invasão da Ucrânia, provocando receio de um acidente nuclear.
Hoje, a operadora russa da central nuclear, a Rosatom, admitiu que existe o risco de um acidente nuclear na central de Zaporijia, tendo o diretor daquela infraestrutura, Alexei Likhachyov, adiantado que conversou com a AIEA durante a noite para reiterar a culpa de Kiev pela situação.
"Aparentemente, Kiev considera aceitável um pequeno incidente nuclear", disse Likhachyov, defendendo que "deve ser feito tudo para que ninguém pense em invadir a segurança da central nuclear".
O conflito em curso na Ucrânia, desencadeado por uma ofensiva militar russa iniciada em 24 de fevereiro, mergulhou a Europa naquela que é considerada como a crise de segurança mais grave desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).