Os clubes são únicos
De tempos em tempos, a má gestão ou os resultados menos bons motivam a ideia de que o que importa é a região e não os clubes
A importância social e económica do futebol profissional, associada a oportunismos de natureza diversa, tem promovido uma certa confusão e posicionamento sobre o interesse regional em ter um clube único a competir nas provas nacionais e internacionais. O assunto é muito mediático sendo extraordinária a facilidade com que se passa de uma questão exclusiva, como deve ser a gestão da vida de um clube, para um quase imperativo social, transformando, de acordo com a conveniência do momento, o interesse de uma organização de poucos milhares de pessoas em algo tão vital para o conjunto global da população de uma região.
É inegável a projecção que o futebol profissional promove em qualquer região oferecendo oportunidades de promoção e desenvolvimento socioeconómico muito positivas, em particular em regiões onde o turismo assume especial relevo. Enquanto actividade desportiva, é também motivador de boas práticas e estilos de vida mais saudáveis a par do associativismo e dinâmicas colectivas que resultam da sua existência. Não se estranha pois que nas últimas décadas, e muito bem, as autoridades regionais e locais, tenham dedicado atenção especial ao futebol profissional madeirense, com os resultados que estão à vista. Desde as infraestruturas aos resultados desportivos com momentos muito elevados e o que daí resulta, não há qualquer dúvida do interesse e mais valia do investimento feito. Vários clubes, a diferentes níveis, responderam à chamada e deram boas respostas, cumprindo desportiva e socialmente o papel que assumiram perante a disponibilidade dos apoios concedidos. Vale a pena lembrar que dinheiro, no desporto, nem sempre é sinal de sucesso. As vitórias e derrotas são o resultado do que acontece em campo, muitas vezes em função do momento. Não chega ter dinheiro, apesar de ser uma grande ajuda.
De tempos em tempos, a má gestão ou os resultados menos bons motivam a ideia de que o que importa é a região e não os clubes e que a solução milagrosa é o clube único, representativo da região, concentrando os meios financeiros que chegariam para garantir o sucesso desportivo e a projecção devida. É uma ideia peregrina que esquece desde logo o princípio de que dinheiro não é sinónimo de sucesso no desporto. Assume também que com dinheiro os problemas de gestão estão resolvidos, quando temos vindo a assistir a sinais contrários de uma incompetência geral na gestão dos clubes profissionais na Madeira. Mas, muito mais importante que isso, pensar e impor um clube único, seja pela escolha de um que já exista seja pela criação de um novo clube, por fusão ou geração espontânea, é matar histórias únicas, faltando ao respeito pela identidade e património que diversas gerações foram construindo em torno dos clubes madeirenses. Cada clube é único e, com maior ou menor apoio deve procurar manter o seu rumo, de acordo com as possibilidades e capacidades, progredindo e tornando-se mais capaz com base na competência e não na disponibilidade de dinheiro que possa vir do bolso dos contribuintes. A situação dos clubes profissionais madeirenses, ao contrário do que, por exemplo, diz o Presidente do meu Clube, o Clube desportivo Nacional, é deveras privilegiada. O Governo Regional é um investidor permanente e de confiança que dá o que pode mas não tem encontrado competência e capacidade para uma gestão adequada por parte do bem amado Presidente. Que é feito dos lucros obtidos nos tempos em que havia abundância de financiamento, como foi desbaratado todo o capital financeiro e de visibilidade que se criou beneficiando de infraestruturas e de dinheiro? Os clubes são únicos e não devem submeter-se a dependências que os podem aniquilar como se tem visto, seja por via de se venderem a investidores sem qualquer ligação ou identificação com os seus valores seja porque a incompetência os faz depender da disponibilidade do orçamento público, que tem mais e mais importantes prioridades para atender. Talvez a única vantagem do tal clube único seria os clubes se verem livres dos actuais incompetentes gestores e voltarem a ser o que genuinamente são: Clubes únicos com história, identidade e valores.