EUA saúdam regresso russo a acordo sobre cereais e instam a prolongá-lo
Os Estados Unidos saudaram hoje o regresso da Rússia ao acordo sobre a exportação de cereais ucranianos, apelando para o respetivo prolongamento.
Segundo o porta-voz do Departamento de Estado norte-americano, Ned Price, é importante que este acordo seja "não só reposto em andamento, mas que ele seja também prolongado ainda este mês", uma vez que termina a 19 de novembro.
"Isso acabará por trazer ainda mais (...) estabilidade ao mercado e, sobretudo, exercerá pressão para baixar os preços" dos produtos alimentares em todo o mundo, acrescentou.
O Governo russo anunciou hoje que a Rússia iria retomar a sua participação no acordo sobre as exportações de cereais ucranianos após ter recebido "garantias escritas" da Ucrânia sobre a desmilitarização do corredor utilizado para o seu transporte.
Moscovo tinha suspendido a sua participação na chamada "Iniciativa do Mar Negro" no sábado, 29 de outubro, após um ataque à sua frota naval na Crimeia, península ucraniana que anexou em 2014.
A iniciativa resulta de acordos assinados pelos dois países, em Istambul, a 22 de julho, sob mediação da ONU e da Turquia, para permitir escoar milhões de toneladas de cereais retidos em portos ucranianos pela guerra desencadeada pela invasão russa, a 24 de fevereiro deste ano.
Desde então, o acordo permitiu a exportação de mais de 9,5 milhões de toneladas de cereais, segundo dados da ONU referentes a 30 de outubro.
O processo tem sido supervisionado por um Centro Conjunto de Coordenação (CCC) em Istambul, o porto onde os navios envolvidos são inspecionados para que a Rússia tenha garantias de que só transportam cereais.
O Presidente russo, Vladimir Putin, advertiu hoje de que suspenderá novamente o acordo de exportação de cereais ucranianos se Kiev violar as garantias escritas de não utilizar o corredor humanitário e os portos ucranianos para fins militares.
"Dei instruções ao Ministério da Defesa para retomarmos a nossa plena participação nesta tarefa. Ao mesmo tempo, a Rússia reserva-se o direito de se retirar deste acordo se a Ucrânia violar tais garantias", declarou Putin no início de uma reunião à distância com o Conselho de Segurança da Rússia.
Também o secretário-geral da ONU, António Guterres, saudou hoje a decisão russa de reativar o acordo para a exportação de cereais a partir da Ucrânia, afirmando que se esforçará por prorrogá-lo além do prazo de 19 de novembro.
Através do seu porta-voz, Guterres agradeceu os esforços diplomáticos da Turquia, que fez a mediação entre Moscovo e Kiev para a manutenção deste pacto, depois de o Governo russo ter suspendido a sua participação nele em resposta a um ataque com 'drones' (veículos aéreos não-tripulados) à sua frota militar em Sebastopol, no sábado passado.
Guterres disse hoje que continua em contacto com todas as partes para alcançar esse objetivo e indicou que a ONU se mantém empenhada em eliminar todos os obstáculos com que continuam a deparar-se as exportações russas de alimentos e fertilizantes, uma das queixas de Moscovo.
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de mais de 13 milhões de pessoas -- mais de seis milhões de deslocados internos e mais de 7,7 milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A invasão russa -- justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.
A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra, que hoje entrou no seu 252.º dia, 6.430 civis mortos e 9.865 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.