Lula fala de educação e apela à não violência em encontro com imigrantes brasileiros
O Presidente eleito do Brasil defendeu o investimento na educação, fator de competitividade, e apelou à não violência, num encontro com a comunidade brasileira em Portugal, que durou toda a manhã de hoje em Lisboa.
"Eu tenho orgulho de não ter ido para a universidade e já ser o presidente que mais fez universidades" na história do Brasil, afirmou Luís Inácio Lula da Silva a uma plateia de 200 representantes de instituições de apoio à comunidade de imigrantes brasileiros em Portugal no ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa.
"Porque eu quero que o ciclo das pessoas trabalhadoras tenham a oportunidade que eu não tive", acrescentou.
Neste contexto, defendeu Lula, a educação "é o investimento mais extraordinário que um governante possa fazer", porque "investir na formação das pessoas e na melhoria da sua capacidade científica", é "melhorar a competitividade brasileira a nível internacional".
"É você virar gente grande, é você não ser apenas exportador de soja ou de minério de ferro, é você ser exportador de conhecimento e inteligência", exemplificou.
Agradecendo a Fernando Haddad, que o acompanhou na sua deslocação à Cimeira do Clima no Egito e a Portugal, "pela revolução" que o ajudou a fazer no Brasil quando foi ministro da Educação dos seus governos anteriores, Lula da Silva salientou, porém, que "é preciso fazer muito mais" no Brasil.
Até porque ao investir na educação, o objetivo é claro: "O que eu quero é lutar pelo nosso padrão e a nossa qualidade de vida."
"A gente pode efetivamente ser muito melhor e ser muito maior", frisou, mas alertando que a situação do Brasil hoje "é difícil".
Para Lula, "não existe nada para garantir mais igualdade de oportunidades do que a educação", pelo que a aposta na educação é também uma forma de resolver a violência nas periferias -- a solução "não é a polícia".
Por outro lado, lembrou que a esquerda venceu Bolsonaro, mas o bolsonarismo não acabou.
Assim, pediu à comunidade brasileira para que "não fique brigando com quem não aceita argumento".
"Não briguem com quem mente, porque é o fanatismo. Então, as pessoas de bem desse mundo, os democratas não podem ficar brigando com pessoas que não têm argumento", sublinhou.
Sobre a composição do seu novo governo, disse que "não pode ser só do Partido dos Trabalhadores (PT)", mas deve "mais gente da sociedade e de outros partidos ou [pessoas] que não tem nenhum partido".
"Nós sabemos que a gente não pode gastar o mesmo que ganha, mas nós sabemos também que a gente pode gastar para fazer alguma coisa para fazer o país crescer e melhorar do ponto de vista logístico e da sua competitividade", disse, deixando uma promessa: "Nós vamos recuperar [o Brasil]".
Já a mulher do Presidente eleito, a socióloga Rosângela Silva, conhecida como Janja, sublinhou a importância das mulheres na vitória de Lula nestas eleições, quer no Brasil quer em Portugal. E assegurou que o governo do marido irá fazer muito mais pelas mulheres e tratá-las "com carinho".
No seu segundo e último dia de visita a Portugal, Lula da Silva teve um encontro no ISCTE com 200 representantes de instituições representativas da comunidade brasileira, de onde saiu diretamente para o aeroporto, de regresso ao Brasil.
No encontro estiveram também presentes a líder do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, e o novo líder do Partido Comunista Português (PCP) Paulo Raimundo, entre outros representantes da esquerda portuguesa.
Na sexta-feira, primeiro dia de visita oficial a Lisboa, Lula da Silva encontrou-se com o Presidente português Marcelo Rebelo de Sousa e com o primeiro-ministro, António Costa.
Lula da Silva, 77 anos, foi eleito em 30 de outubro, data da segunda volta das eleições presidenciais brasileiras como Presidente do Brasil, com 50,90% dos votos, derrotando Jair Bolsonaro (extrema-direita), que obteve 49,10%, quando estavam contadas 99,93% das secções eleitorais.