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Madeirenses com salários baixos

O grande desafio dos governos de hoje consiste na criação de condições para que o trabalho ganhe dignidade em todas as suas valências.

O trabalho, sem nunca perder o quadro de deveres inerente a qualquer atividade, é um direito humano que deve garantir a realização pessoal e a inclusão na vida em sociedade. Não existe desenvolvimento sustentável sem trabalho digno, sem segurança na atividade laboral, igualdade de oportunidades, conciliação entre a vida profissional e a familiar e, fundamentalmente, sem uma política de salários justos.

A Madeira está presa a um modelo de desenvolvimento que não cria os mecanismos necessárias para a valorização dos trabalhadores e do trabalho, é um modelo que não está ao serviço da qualidade de vida nem do futuro dos trabalhadores madeirenses.

Todos os dias ouvimos o governo regional e os partidos da maioria a divulgarem crescimento económico na Região nos setores do turismo, do imobiliário, do alojamento, da construção civil, das tecnologias e em alguns serviços. Segundo a Direção Regional de Estatística, o setor do turismo continua a bater recordes, só em setembro, o setor gerou 55,1 milhões de euros de proveitos.

A construção civil segue a mesma linha de crescimento, a quantidade de cimento vendida atinge um volume considerável, a venda de cimento ascendeu as 43,6 mil toneladas, o valor mais alto dos últimos 8 anos.

A aposta nas novas tecnologias é apresentada como um sucesso. De acordo com os dados oficiais, existem 14.400 nómadas digitais inscritos na Startup Madeira e já passaram pela região 7.600 nómadas. Segundo o Presidente do Governo, o turismo vale 460 milhões na economia regional e as tecnológicas já valem 308 milhões de euros.

Como se pode observar, os dados indicam, na verdade, crescimento económico. Sim, mas para quem? Quem beneficia com este crescimento? Ao falarmos com os madeirenses que recebem um salário no final de cada mês e pagam os seus impostos, apercebemo-nos, logo, que este crescimento está a deixar demasiada gente para trás. A falta de uma estratégia política de redistribuição da riqueza gerada continua a arrastar milhares de madeirenses para a pobreza e a exclusão social e toda uma classe média para o empobrecimento progressivo.

De acordo com o Instituto Nacional de Estatística, os trabalhadores madeirenses empregados por conta de outrem, recebem o salário médio mensal líquido mais baixo de todas as regiões do país, são 869 euros. Isto é, menos 16% do que a média nacional. Esta é a realidade, apesar de tanto crescimento económico.

Se juntarmos as situações de subemprego, os trabalhadores a recibos verdes, a situação ainda tão real de os homens receberem um salário, em média, 154 euros a mais do que as mulheres, mais 14,2%, concluímos que o crescimento económico propagandeado pelo governo regional e a maioria não está a valorizar a qualidade de vida dos trabalhadores nem a promover um desenvolvimento sustentável.

Deparamo-nos, na Madeira, com um modelo de sociedade assente em salários baixos, precariedade e instabilidade laboral, criando as condições para que, nos últimos dez anos, cerca de 17 mil madeirenses tivessem de emigrar por falta de oportunidades e de salários dignos na sua terra. E, em relação aos mais jovens, para além dos cerca de 9 mil entre os 16 e os 34 anos que não estudam nem trabalham, e além de sermos a Região do país que mais perdeu população jovem até aos 24 anos, entre 2011 e 2021, menos 22%, é o próprio reitor da UMa a defender que é necessário “travar a fuga de cérebros da Região”.

Este modelo de desenvolvimento à moda do PSD/CDS não serve os madeirenses.