Vítimas de abuso sexual em Itália consideram relatório dos bispos ridículo
As vítimas italianas de abusos por parte do clero consideraram que o relatório apresentado hoje pelos bispos "roça o ridículo" porque se refere apenas a dois anos, 2020 e 2021, e aos casos que chegaram às dioceses.
"Todos os casos envolvendo padres italianos comunicados à magistratura, à nossa associação ou diretamente à Congregação para a Doutrina da Fé estão excluídos do relatório", disse Francesco Zanardi, fundador da associação Rete L'Abuso e vítima de um padre pedófilo, numa nota.
A Conferência Episcopal Italiana (CEI) apresentou hoje o seu primeiro relatório sobre atividades de prevenção e formação em revelando que nestes dois anos recebeu 89 denúncias de alegados casos de abuso sexual cometidos por 68 pessoas relacionadas com a igreja.
"Sem mencionar a indemnização e sem apoio às vítimas, porque apenas 14 por cento das dioceses têm um psicólogo, e para os padres, em vez disso, há 23 centros em que são assistidos e muitas vezes até libertados da prisão", denuncia Rete L'Abuso.
A denúncia prossegue referindo que "não há qualquer indício de colaboração com a Autoridade Judiciária, a não ser, naturalmente, quando estão a ser investigados e são obrigados a fazê-lo, não se sabe quem ou, pelo menos, onde estão os padres e leigos mencionados e que medidas foram efetivamente tomadas".
"O relatório confirma uma mera propaganda das dioceses, útil para a igreja, mas muito perigosa para as vítimas", acrescentam.
De acordo com o relatório, as denúncias, referentes a "linguagem e comportamento inadequados, toque, assédio sexual, relações sexuais, exibição de pornografia, contactos na Internet e exibicionismo", correspondem tanto a casos atuais (52,8%) como a casos passados.
Na assembleia geral dos bispos italianos, em maio passado, na qual foi eleito o novo presidente, o cardeal Matteo Zuppi, os bispos anunciaram este "primeiro relatório nacional sobre atividades de prevenção e formação e sobre casos de abuso reportado à rede de serviços diocesanos e interdiocesanos nos últimos dois anos (2020-2021)".
Informaram ainda que "será realizado um relatório sobre os dados de abuso detidos pela Congregação para a Doutrina da Fé, onde estes casos são investigados e julgados, e apenas relativos ao período 2000-2021".
As associações de vítimas tinham pedido um relatório que abrangesse pelo menos os últimos 60-70 anos, como tem sido feito noutros países europeus para ter uma visão ainda mais ampla deste flagelo e abrir os arquivos de todas as escolas, mosteiros, dioceses e outros centros católicos.