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Regionais 2023: caminhos possíveis

A menos de um ano das eleições, o cenário político na Madeira vai ficando cada vez mais claro.

Por um lado, PSD e CDS preparam-se para ir a votos coligados: para o PSD, fazê-lo é garantia de estabilidade pré-eleitoral, evitando perturbações de última hora na governação; para o CDS, é garantia de sobrevivência, evitando o risco de extinção eleitoral. Mas se isto é verdade antes das eleições, nada é certo no dia seguinte. As contas à direita podem ditar configurações distintas: o PSD pode eleger deputados suficientes para governar sozinho; pode necessitar do CDS; e pode ainda precisar do apoio de outros partidos que poderão ter representação pela primeira vez, como o Chega anti-sistema, ou a Iniciativa Liberal a favor de um sistema económico que em 45 dias arruinou o Reino Unido. A dúvida que fica é se todos caberão, ou se serão suficientes: os que defendem a coligação, como Pedro Calado; os que são contra, como Pedro Coelho; os actuais governantes e deputados; os rostos do Compromisso 2030; os dirigentes do CDS; e, finalmente, os autarcas em fim de linha, como Pedro Coelho, Ricardo Nascimento, Carlos Teles e José António Garcês.

Perante esse quadro de incerteza à direita, o que sobra então à esquerda?

A posição do PCP Madeira tem sido sempre a de manter a ortodoxia de quem nunca se importou, na prática, de dar uma mão ao PSD para deixar tudo na mesma, com o Funchal como exemplo mais recente e paradigmático. Ao Bloco de Esquerda e a outros partidos agora com menor expressão, falta capacidade de mobilização, reflexo também da desmobilização social a que assistimos na Região. Finalmente, o JPP parece apostado em construir a sua própria solução: Élvio Sousa confirmou a tendência de isolamento e Filipe Sousa aparenta caminhar para uma candidatura regional.

É perante este quadro que o PS precisa de posicionar-se: para começar, como solução de moderação entre uma direita disponível a fazer tudo, custe o que custar, para manter-se no poder, e partidos à esquerda incapazes de, isoladamente, mobilizarem os madeirenses em torno de um projecto maior. Para isso, o PS precisa de somar a essa moderação capacidade de agregação e de diálogo, que permitam construir plataformas de entendimento. É incompreensível que partidos da oposição a um Governo de 46 anos se dediquem mais a apontarem diferenças entre si do que em relação a quem governa. Estabelecer essa base de entendimento - estratégica, mas não obrigatoriamente programática; política, mas não necessariamente partidária -, que faltou em 2019, será um passo em frente nas próximas eleições.

O PS precisa também de acrescentar à capacidade de diálogo com outros partidos e com a sociedade civil, que vai promovendo com diversas iniciativas, a capacidade de falar com clareza para todos os madeirenses. Não questiono a importância de, num momento como este, concentrar atenções no discurso económico - mas mais do que falar para empresários e franjas, é preciso explicar com pragmatismo a todos os madeirenses o que podem esperar de concreto em áreas como a Saúde, a Educação, a Habitação, o Emprego e a política de Rendimentos. Com mais pés no terreno e menos salas com cadeiras. Se não formos capazes de mobilizar os madeirenses, nomeadamente a nível local, tudo será em vão.

Finalmente, o PS precisa mesmo de contar com os seus melhores e mais representativos. O pensamento parece básico, mas é aí que reside um certo fatalismo histórico partidário, que se repete a cada novo ciclo de novas lideranças. Quando, em 2019, optou-se por incluir nas listas do PS os líderes desse projecto, anteriores Presidentes, antigos e novos quadros, jovens e independentes, o que se fez foi transmitir aos madeirenses que esse era um projecto que contava com todos. Quando disse, no último Congresso, que Sérgio Gonçalves tinha condições para fazer diferente em relação a quem sucedeu, era sobre incluir em vez de excluir, aproximar em vez de afastar. O PS terá, até ao próximo ano, duas opções: incluir Ricardo Franco, Emanuel Câmara, Célia Pessegueiro, Miguel Gouveia, Guido Gomes, Carlos Pereira, Liliana Rodrigues, Bernardo Trindade, Olavo Câmara, entre outros, numa verdadeira alternativa para os madeirenses, ou construir uma solução sem representatividade regional, implantação local, tempo e capacidade de afirmação. Nada nos obriga a repetir erros com impacto negativo local e regional.

A Madeira necessita de uma estratégia alternativa mobilizadora e vencedora: primeiro, nos planos político e partidário; depois, nos planos social e económico. Se, apesar dos sinais de dificuldade que as sondagens evidenciam, continuamos a acreditar que é possível, pois então que comecemos a construí-la já, antes que seja, outra vez, tarde demais.