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Troco o cabaz pelo futuro

Sharm el-Sheikh recebeu a Cimeira do Clima (COP27) e pôs o mundo a pensar o ambiente e as alterações climáticas. Para além do habitual ceticismo motivado pela inconsequência de anteriores encontros, esta Cimeira tem o mérito de colocar o assunto na ordem do dia e de continuar a despertar consciências numa matéria que tem de ser assumida como absolutamente prioritária.

A dimensão mundial da discussão não nos pode levar a pensar que se trata de uma reflexão distante. É verdade que a sociedade tem hoje uma maior sensibilidade e consciência relativamente às questões ambientais, mas todos sabemos que não estamos ainda a fazer o que devemos e que temos um longo caminho a percorrer.

Não há tempo a perder. O assunto é muito sério, é próximo, é atual, é real, é nosso e muito urgente. É importante que os jovens abracem com força e determinação esta “causa coletiva”: “a defesa do ambiente e do futuro”. Não queremos uma sociedade alheada, acrítica e apática. O pensamento, a reflexão e a reação firme e destemida são louváveis. O envolvimento ativo, assertivo, sério, responsável e determinado dos jovens reforça a mensagem, pois, afinal, são eles os grandes protagonistas do futuro. Devem envolver-se, preocupar-se, reagir, agir e lutar pelo futuro. E dos políticos esperam obviamente muito mais. Os jovens estão atentos e não vão tolerar políticas populistas do imediato que comprometam o seu futuro.

É tempo de trocar a política do cabaz pelo futuro. Prescindirei sempre do populismo imediatista que alimenta e mantém fragilidades. Troco o cabaz pelo futuro, absolutamente. Com todos os riscos políticos e com tudo o que isso implica, assumo-o.  

Não aceito que se reduza substancialmente o investimento em ambiente e sustentabilidade ambiental. E não compreendo que, em pleno ano de 2022, alguns municípios não estejam ainda a cumprir tudo o que lhes é imposto em termos de saneamento básico e de tratamento de águas residuais urbanas. Numa altura em que o mundo procura estabelecer metas ambientais e climáticas a longo prazo, temos municípios que nem sequer conseguem evitar descargas poluentes no nosso mar, o que, para além de todos os danos em termos ambientais e de saúde pública, mostra que não estão a tratar a totalidade da carga gerada. E o tratamento “preliminar” que asseguram está muito aquém do “tratamento secundário” a que alude a Diretiva 91/271/CEE, de 21 de maio de 1991. Passados mais de 30 anos, não estão a cumprir o mínimo exigido, o que deverá sempre merecer uma reação firme da Comissão Europeia, até porque as infraestruturas para tratamento de águas residuais foram construídas com fundos europeus com fins ambientais específicos que não estão a ser cumpridos.