Bloco prepara declaração que condena com firmeza invasão russa da Ucrânia
Os líderes das maiores economias mundiais (G20) estão próximos da aprovação de uma declaração que denuncia a invasão russa que devastou a Ucrânia e afetou a economia global, podendo obter aprovação da China e Índia, indicou hoje a AP.
De acordo com a agência noticiosa norte-americana Associated Press (AP), o Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e o seu homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky, exerceram hoje uma forte pressão sobre os países participantes para que seja emitida uma forte condenação às ameaças nucleares da Rússia e ao embargo aos produtos alimentares, e que poderá contar com o apoio de Pequim, que tem recusado censurar Moscovo até ao momento, e da Índia, um importante cliente do armamento russo.
As discussões e um possível voto vão ainda prosseguir na quarta-feira, último dia da cimeira, e quando um projeto de declaração do G20 se associa à condenação das Nações Unidas à guerra da Rússia na Ucrânia, apesar das diversas perspetivas entre os seus membros, segundo prossegue a AP.
A cautelosa redação da declaração é um reflexo das tensões que prevalecem no encontro, que inclui dirigentes da Rússia e da China, e os desafios enfrentados pelos Estados Unidos e aliados na tentativa de isolarem o Governo do Presidente russo, Vladimir Putin. Alguns países parecem também pretender evitar envolver-se nos antagonismos entre as maiores potências.
No entanto, e caso seja aprovada na sua atual forma, a declaração constituirá uma forte crítica a uma guerra que já provocou milhares de mortos e feridos e milhões de refugiados e deslocados, para além de ter agravado as tensões em termos de segurança global e perturbado a economia global.
Caso se concretize, indica a AP, constituirá um marco significativo desde que a China e a Índia se abstiveram de condenar a invasão russa na resolução da ONU de março passado.
O projeto de declaração avançado pela AP "lamenta nos seus mais fortes termos a agressão da Federação Russa" e "solicita a sua completa e total retirada do território da Ucrânia".
O texto do G20 assinala que existem diferentes perspetivas sobre a situação e as sanções contra a Rússia, sublinhando que o bloco não é o fórum vocacionado para a resolução de questões de segurança.
O conselheiro para a Segurança Nacional dos Estados Unidos, Jake Sullivan, criticou os mais recentes ataques russos na Ucrânia, que hoje atingiram infraestruturas energéticas em diversas cidades, enquanto o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov, que dirigiu a delegação russa à Indonésia em substituição de Putin, denunciou as pressões da administração de Joe Biden para condenar Moscovo.
"Todos os problemas estão do lado ucraniano que se recusa categoricamente a manter quaisquer conversações e apresenta condições obviamente irrealistas e inadequadas a esta situação", disse Lavrov antes de abandonar Bali, sendo substituído na reunião pelo ministro das Finanças, Anton Siluanov.
Outros dos problemas para a economia global nos dois últimos anos foi a pandemia da doença covid-19, e que voltou a ser acentuada após o regresso apressado ao seu país do primeiro-ministro cambojano, Hun Sem, que testou positivo.
Na sua intervenção por videoconferência durante esta reunião do G20, Zelensky reiterou as dez condições para o fim do conflito, incluindo a total retirada das tropas russas e o total controlo ucraniano sobre o seu território.
"A Ucrânia não apenas deve concluir compromissos de acordo com a sua consciência, soberania, território e independência", disse o chefe de Estado ucraniano.
"A Ucrânia sempre liderou os esforços de manutenção da paz, e o mundo testemunhou-o. E se a Rússia diz que pretende supostamente terminar com esta guerra, que o prove com ações", acrescentou.
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de mais de 13 milhões de pessoas -- mais de seis milhões de deslocados internos e mais de 7,8 milhões para países europeus --, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A invasão russa -- justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia -- foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.
A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra 6.557 civis mortos e 10.074 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.