A Madeira “toast to América”!
Quando mais receamos pela Democracia, ela tem sempre formas de nos surpreender pela positiva, demonstrando que devemos ter sempre esperança no futuro e, sobretudo, devemos ter sempre esperança na escolha livre das pessoas. E foi em liberdade democrática que nos Estados Unidos da América tomaram decisões fundamentais na passada semana, com eleições para o Congresso (Senado e Câmara dos Representantes), bem como para eleições estaduais de governadores, assembleias legislativas, procuradores e referendos legislativos.
Tive oportunidade de assistir pessoalmente e em primeira mão este fervor cívico, estando presente como observadora eleitoral em representação da OSCE PA (Assembleia Parlamentar da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa) e nomeada pela Assembleia da República, designadamente no Distrito da Columbia, em Washington, bem como no Estado da Virgínia.
As decisões dos americanos nas eleições intercalares foram de grande importância não apenas para os EUA, mas para o Mundo, com a manutenção da liderança pelos Democratas no Senado e na vitória para Governadores em vários Estados muito importantes, sendo que na altura em que escrevo este artigo ainda não se sabe como ficará a Câmara dos Representantes, mas mesmo que seja de maioria Republicana será sempre por uma pequena margem. O Presidente Biden terá assim condições para continuar a avançar com a sua agenda política no restante mandato, o que não é coisa de somenos.
Efetivamente esteve e continua a estar em jogo duas conceções completamente diferentes da vida em sociedade, das prioridades de desenvolvimento, e de uma cultura de vida. Com Donald Trump veio uma América fechada sobre si própria, avessa às saudáveis e equilibradas trocas comerciais internacionais, negacionista das alterações climáticas, negacionista da pandemia de Covid-19, onde as desigualdades sociais aumentaram, com cada vez maiores benefícios aos mais ricos, e com maiores fragilidades daqueles com menos rendimentos. O racismo e a xenofobia renasceram em força. Ainda nos encontramos no processo de reverter quatro anos que não se devem esquecer. A memória é importante. O Presidente Joe Biden tem ainda um longo caminho pela frente, e com a guerra na Ucrânia a introduzir uma enorme incerteza económica. Veremos como estes dois anos irão influenciar as próximas eleições presidenciais, mas com uma nota de muito otimismo: foram os jovens que mais uma vez decidiram estas eleições votando maioritariamente nos Democratas, numa agenda mais progressista e em acordo com os valores que idealizam para a sua vida futura.
Como observadora eleitoral tive também oportunidade de ver quão diferenciador é o sistema eleitoral americano em relação à Europa e, em particular, a Portugal. Em vários Estados é possível ao cidadão registar-se para votar no próprio dia, sendo também possível votação antecipada, seja por correio ou net-online (o único caso onde diria que há riscos enormes de violação e interferência externa). Também diferenciador é o equipamento utilizado para votação, por exemplo em Washington observei tanto o “touch screen” para voto eletrónico, como voto em papel. O primeiro permite uma votação mais inclusiva, pois vota de igual modo qualquer cidadão com ou sem deficiência, adaptando-se o aparelho às necessidades dos eleitores. Sem dúvida um bom exemplo.
Termino, lembrando o encontro com o Embaixador de Portugal em Washington, Francisco Duarte Lopes, onde recordámos mais uma vez a importância do Vinho Madeira, cujo brinde serviu de comemoração da Independência dos EUA em 1776. Continuemos a promover esta nossa relíquia num mercado de consumidores que muito nos valoriza e onde temos um património histórico inigualável. Que venham muitos brindes à América com o nosso Madeira!