Crónicas

Brincadeira de crianças

Esta semana foi marcada pelo protesto dos estudantes pelo fim dos combustíveis fosseis mas também pelo exigir da demissão do atual Ministro da Economia e do Mar, António Costa Silva por defender a prospeção na área do Algarve. Pelo meio, alguns foram também reivindicando o fim da obrigatoriedade dos exames nacionais. Instalaram-se numa espécie de fanfarra com tendas, tambores , buzinas e faixas com dizeres alusivos ao tema. O ambiente é um assunto sério, deve ser levado com muita atenção e devemos dar passos claros para que este planeta se torne mais respirável e menos caótico. Basta ver as doenças que os fenómenos da poluição acarretam mas também os desastres naturais e tantas outras implicações no nosso dia a dia mas sobretudo que podem fazer perigar o futuro das próximas gerações. Embora seja um tema que deva ser transversal a toda a sociedade, parece-me lógico que sejam os mais jovens a preocupar-se mais com a sustentabilidade do nosso ecossistema e com as alterações climáticas, uma vez que serão eles sujeitos às consequências que daí podem advir. Mas para que as pessoas os levem a sério é fundamental que comecem por ser coerentes com aquilo que apregoam.

Na verdade aquela que é apenas mais uma geração consumista esquece-se de aplicar aquilo que defende no seu dia a dia, umas vezes por conveniência outras por pura ignorância. Se os jovens que ali estão representados começassem a analisar com alguma exaustão o seu dia a dia, a quantidade de roupa que têm no armário, as viagens que adoram fazer de avião nas companhias low-cost ou o simples transporte que usam para ir para a escola ou para sair à noite, perceberiam que existe ainda um mundo de hábitos para ser alterados e que deviam começar por aí, por alterar os seus padrões de consumo ou alguns procedimentos que usam de uma forma quase mecânica mas que em muito prejudicam o meio ambiente. Conheço muitos jovens daquela idade, não posso falar daqueles em específico porque não sei se conheço algum dos que por lá estão acampados, o que sei é que dos vários que conheço por aí, todos eles têm computador, phones, i-phones, alguns têm inclusivamente tablets e nunca os vi a rejeitar fazer uma viagem onde quer que fosse para não poluir o planeta. Muitos deles optam até no exercício físico, pelos ginásios em vez de darem um passeio a pé no parque (que bem que faz o ar livre) e por lá fazerem alguns exercícios.

Eu percebo que tenha uma certa piada invadir uma escola ou a Ordem dos Contabilistas, que seja excitante e emocionante fazer vigílias à noite, acampar na escola, ver os colegas a elegê-los como semi-heróis ou afrontar a sociedade, sobretudo os mais velhos. Sempre foi assim, sempre fomos assim aliás, também nós, quando passámos por aquela idade. Uns em prol de umas causas outros por outras. Não me esqueço das guerras que tive na faculdade nos meus tempos associativos e do quanto isso me motivava. Sei que é fixe sermos rebeldes, fazermos diferente, assumirmos bandeiras e convicções. O problema depois é ser estruturado de acordo com as mesmas. Imagino que seja uma muito estimulante defender o meio ambiente, a natureza e o nosso planeta, considero, como escrevi no inicio que o tema é de facto muito importante e deve ser levado de forma séria. Não podemos é querer que os outros mudem os seus comportamentos sem começar pela nossa própria casa, pelo nosso próprio umbigo. Percebo que as televisões adorem este tipo de reality-shows, que dêem projecção a estes movimentos e que os amplifiquem e também não me é difícil de constatar que os meninos ali em protesto tipo Chapitô, adorem aparecer na televisão, pena é que muitos deles não façam pelo menos o trabalho de casa e não tentem ter um discurso articulado com alguma substância, com matéria profunda e argumentos relevantes.

É mais do que óbvio, pela animação que por ali vai, que este protesto é mais uma aventura e um desafio do que fundamentado em genuínas preocupações ambientais. Basta ver quando se pergunta a algum deles o que fazem pelo planeta a resposta invariável é, “separo o lixo”. E se lhes começarem a limitar a carga do telemóvel, as horas para ver televisão, as saídas à noite e o lixo que daí advém ou mesmo para muitos o conforto do transporte para a escola e as compras de roupa em catadupa, alto e pára o baile que como dizia um famoso sketch dos Gato Fedorento, “isso não que isso magoa”. Se calhar era importante começarem por fazer essa reflexão antes de se mandarem para semelhante empreitada. Ou começarem por deixar as trotinetes de lado e andar mais a pé. As alterações climáticas não devem ser levadas como uma brincadeira de crianças nem ser tratadas de forma leviana, só para meia dúzia faltarem às aulas e confrontarem a polícia.