Madeira

Susana Albuquerque demonstra porque é que o dinheiro não traz a felicidade

FOTO MIGUEL RODRIGUES/ASPRESS
FOTO MIGUEL RODRIGUES/ASPRESS

A advogada e especialista em educação financeira Susana Albuquerque considera que muitas pessoas vivem enganadas por uma “visão desequilibrada” que lhes diz que o dinheiro conduz à felicidade, quando o que acontece é o oposto, a felicidade é que conduz ao dinheiro.

Intervindo no TEDxFunchal 2022, que decorre esta tarde, no Centro de Congressos da Madeira, a especialista descreveu como uma tragédia familiar (o suicídio do avô devido a problemas financeiros) a motivou a estudar este problema nos últimos 15 anos. A ciência da felicidade, que é a psicologia positiva, a primeira coisa que lhe mostrou é que a felicidade tem três dimensões: a vida satisfatória, quando nós experenciamos emoções agradáveis; a vida boa, quando nós usamos os nossos dons e talentos e as nossas forças; e a vida com sentido, quando nós sentimos que fazemos parte e contribuímos para alguma coisa maior do que nós.

Por outro lado, fez três grandes descobertas sobre o impacto do dinheiro na nossa felicidade. A primeira é que o dinheiro apenas contribui para aumentar a nossa felicidade até à satisfação das nossas necessidades básicas (casa, comida, roupa, segurança) e que a partir daí mesmo que o nosso rendimento aumente, a nossa felicidade não aumenta na mesma proporção. A segunda descoberta é que o dinheiro só nos vai trazer felicidade se ele for o veículo da nossa realização pessoal, dos nossos objectivos de vida. “Se ele for um objectivo em si mesmo, o que vai acontecer é que nós nos vamos tornar mais egoístas, mais egocentrados, e isso vai deteriorar os nossos relacionamentos e vai reduzir imediatamente a nossa felicidade”, descreveu Susana Albuquerque. A terceira descoberta é que “se nós formos mais felizes primeiro teremos maior motivação para atingir os nossos objectivos, logo seremos mais bem-sucedidos e então teremos mais dinheiro”.

Face a este quadro, Susana Albuquerque concluiu que a fórmula da felicidade que lhe foi transmitida pela sua família na verdade funcionava exactamente ao contrário, pois “para sermos felizes, nós precisamos de começar a colocar o foco da nossa atenção na felicidade”.

Por isso, às pessoas que procuram ser mais felizes, aconselhou-as a analisarem como é que estão a utilizar os seus recursos (tempo, energia física, mental, emocional e espiritual) e a examinarem também as suas crenças. Em segundo lugar, recomendou a elaboração de um orçamento de felicidade, no qual sejam elencadas as acções intencionais diárias ou semanais e as rotinas que contribuem para melhorar cada um dos elementos do bem-estar.

O que deve estar nesse “orçamento de felicidade”? A primeira entrada é a prática da gratidão. “Temos a tendência de ver apenas o que falta no copo, o que falta na nossa vida e isso faz com que tenhamos menos acesso aos nossos recursos criativos. Temos de registar três coisas boas da nossa vida e transformar o nosso ‘mindset’ de carência para abundância”, explicou.

O “orçamento de felicidade” deve prever, como rotina semanal, a prática de actividades criativas, artísticas e desportivas, que dão prazer e equilíbrio, na rotina semanal, porque são importantes para o bem-estar físico, emocional e mental. É ainda essencial reconhecer os seus dons e talentos, as forças pessoais, para viver a vida com propósito e sentido, com o impacto que queremos ter.

A prática de actos aleatórios de bondade (como, por exemplo, oferecer o bilhete de estacionamento gratuito) e escrever os objectivos que pretendemos trabalhar e alcançar são outras tarefas relevantes. A última entrada no orçamento de felicidade é a prática de ‘mindfulness’, da atenção plena, porque “nós vivemos normalmente em piloto-automático, em reactividade, o que nos causa imenso stress e sofrimento”. “A prática da atenção plena permite tornar-nos mais focados, eficientes e a fazer escolhas mais conscientes”, rematou a advogada.

“A felicidade não vem de termos cada vez mais coisas novas, que delapidam o planeta a cada minuto, mas sim de ter tempo para ser, para criar e para desfrutar da vida, respeitando os nossos recursos pessoais e naturais”, concluiu Susana Albuquerque.