Juan Pablo Santos criou fundação que garante próteses para crianças e adultos
Descendente de famílias oriundas de Câmara de Lobos perdeu as duas pernas, há quatro anos, num acidente de trânsito. Hoje, é apresentador de um programa na televisão venezuelana
O luso-venezuelano Juan Pablo dos Santos perdeu as duas pernas, há quatro anos, num acidente de trânsito. Hoje, é apresentador de um programa na televisão venezuelana e tem uma fundação que ajuda a conseguir próteses para deficientes.
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"Em 2019 ia para uma festa quando tive um acidente de automóvel (...) Acordei numa clínica, três dias depois, e comecei uma nova vida, tive de compreender o que acontecia e ver a vida de outra maneira", explicou à agência Lusa.
Com 23 anos, o lusodescendente diz que quem tem deficiência "tende a isolar-se, é deixado de lado pela família, escondido em casa e isso não está bem", uma realidade que quer contrariar: "Eu luto para conseguir que quem tem alguma deficiência possa viver com normalidade".
"Depois de perder as pernas, tenho conseguido mais coisas do que antes (...) Agora faço parte da equipa de um programa da televisão aqui na Venezuela e é a primeira vez que um deficiente aparece na televisão", explicou, precisando que participou recentemente num concurso de beleza e na Semana da Moda de Nova Iorque.
Juan Pablo insiste que muitas pessoas o ajudaram "a ter pernas [próteses] e a pagar os gastos médicos".
"Agora eu tenho a possibilidade de ajudar outras pessoas com deficiência, através da minha fundação e quem melhor que eu para saber quais as dificuldades de quem lhe falta um membro", comentou.
Conhecido como um "motivador", o lusodescendente descreveu à Lusa que a ideia da "Fundación Juan Pablo 2 Santos" surgiu "numa noite", enquanto chorava na cama, quando pensou que "era uma voz importante nas redes sociais": tinha muitos seguidores e podia ajudar outras pessoas, mas não estava a fazer nada.
"O Centro Português é uma casa para mim. Eles ajudaram-me em todos os aspetos, fazendo torneios desportivos, de tudo, para recolher dinheiro, para pagar as minhas operações e agora eu tenho a possibilidade de fazer coisas pelos outros. Um dia, peguei o caso de um deficiente e publiquei nas minhas redes sociais, e em duas horas conseguimos as próteses para esse menino que agora vai para a escola a pé", explicou.
Orgulhoso do que faz, destaca que a sua fundação já ajudou "16 crianças a recuperar a normalidade e a viver com alegria".
"A nós [pessoas com deficiência] não nos falta nada, enquanto o coração estiver completo tudo está bem", comentou.
Por isso, transmite às pessoas com deficiência que "a vida continua, apesar de terem perdido uma perna ou um braço" porque "a vida é mais do que uma perna, do que um braço".
"Temos de amar o nosso corpo (...) é o único que temos. Então eu digo-lhes que ainda podem concretizar os seus sonhos, que têm de continuar em frente", frisou.
Juan Pablo quer continuar a fazer passar a sua mensagem.
"Conseguir que se abram mais portas para as pessoas com deficiência, na Venezuela (...). onde ainda há muito por fazer para que os deficientes tenham uma vida mais normal", referiu, lamentando, por exemplo, que os centros comerciais e os restaurantes ainda não tenham casas de banho adaptadas para deficientes.
"Eu tenho projetos na televisão, nas redes sociais e com a Fundação. Quero conseguir que mais pessoas conheçam o que fazemos e que nos ajudem a ajudar muitas crianças que os pais não têm como pagar os tratamentos", explicou.
No entanto, insiste, o papel da "Fundação não é só conseguir uma cadeira de rodas, uma prótese, é também sensibilizar o mundo de que os deficientes podem viver numa sociedade sem limitações, que podem fazer tudo sozinhos".
Entre os casos que ajudou, destacou o de um menino de 07 anos, órfão, que não tem a perna esquerda e que vivia num orfanato.
"Tinha parado de sonhar, porque na sua situação era impossível ter uma prótese. Fizemos um pedido nas redes sociais e duas semanas depois o menino estava a andar", disse.
"A tecnologia tem-nos ajudado a conseguir coisas boas, não é só como muitas pessoas pensam que as redes sociais são vazias (...). Acho que têm muitas pessoas que querem fazer o bem", concluiu.