PSD apresenta 40 propostas de revisão da Constituição
O projeto de revisão constitucional do PSD vai ter 40 propostas para assinalar as alterações de 1982, mexendo em áreas como a saúde - mantendo o seu caráter "tendencialmente gratuito" -, educação ou habitação.
"Nos 40 anos da revisão constitucional de 1982 que consolidou a democracia liberal em Portugal também por sua iniciativa, o PSD apresenta 40 propostas num projeto de revisão constitucional: realista, reformista e diferenciador", refere o partido, num resumo das alterações que serão apresentadas hoje à noite ao Conselho Nacional.
Os sociais-democratas salientam que o projeto assenta em três eixos prioritários: "Uma Constituição moderna para o século XXI" (aproximando-se do título do projeto de Pedro Passos Coelho em 2010, "Uma Constituição para o século XXI"), "Autonomia Regional e Coesão Territorial" e "A pessoa no centro das políticas públicas".
Entre as propostas divulgadas pelo partido -- que ainda não revelou o articulado do projeto -- está a inclusão entre as tarefas do Estado da promoção da justiça entre gerações e a criação de um Conselho de Coesão Territorial e Geracional.
Este órgão, segundo o PSD, visa assegurar "uma representação paritária das diferentes regiões do território e gerações, nos termos a definir na lei e com poder consultivo de pronúncia sobre as propostas de lei ou decreto-lei nas matérias suscetíveis de afetar os seus interesses".
Tal como a Lusa já tinha avançado, será também incluído no projeto do PSD uma proposta para reduzir a idade legal para votar dos atuais 18 para os 16 anos, bem como propostas para o "reforço da dignidade da terceira idade" e "promoção da igualdade entre mulheres e homens e mobilidade social incluindo no direito ao trabalho".
No domínio do reforço da autonomia regional, o PSD proporá a extinção do Representante da República, com as suas competências a serem transferidas para o Presidente da República.
No capítulo da "primazia às pessoas", o PSD quer clarificar no artigo relativo às tarefas fundamentais do Estado que é "incumbência fundamental do Estado Social dar primazia ao acesso e fruição universal dos mesmos por todos os cidadãos, através do modo de provisão que melhor o garanta".
Atualmente, o texto constitucional refere que é tarefa do Estado "promover o bem-estar e a qualidade de vida do povo e a igualdade real entre os portugueses, bem como a efetivação dos direitos económicos, sociais, culturais e ambientais, mediante a transformação e modernização das estruturas económicas e sociais".
Na área da saúde, os sociais-democratas querem acrescentar "um novo preceito" constitucional, segundo o qual o direito à saúde é realizado "com o acesso universal e em tempo e qualidade adequados aos cuidados de saúde necessários, aproveitando a complementaridade com os serviços privados e social de saúde".
Questionada pela Lusa, fonte do partido disse que se mantém no projeto a atual formulação da Constituição que refere o direito a "um serviço nacional de saúde universal e geral e, tendo em conta as condições económicas e sociais dos cidadãos, tendencialmente gratuito", uma disposição que era eliminada no projeto de revisão constitucional do PSD em 2010, numa revisão que ficou por concluir devido à dissolução do parlamento em abril de 2011.
De acordo com as propostas antecipadas pelo PSD, o projeto conterá ainda "uma nova visão de promoção do acesso à habitação e as incumbências do Estado na matéria" e irá prever o "acesso universal e gratuito a creches e à educação pré-escolar e ensino secundário" (atualmente a Constituição apenas determina essa obrigatoriedade para o ensino básico).
O PSD quer também reformular na Constituição o artigo relativo ao ensino, referindo que "o Estado assegura uma rede pública de estabelecimentos de ensino que cubra as necessidades de toda a população aproveitando a complementaridade com ensino privado e cooperativo".
Atualmente, a lei fundamental refere que "o Estado criará uma rede de estabelecimentos públicos de ensino que cubra as necessidades de toda a população".
De acordo com o resumo das propostas divulgado pelo partido, o projeto incluirá ainda "princípios de moderação no esforço fiscal, a estabilidade e previsibilidade fiscal, simplificação, eficiência e minimização das despesas de cobrança, e o combate à fraude e evasão fiscal".
O Chega abriu um processo de revisão constitucional com a entrega no parlamento um projeto de revisão constitucional que foi admitido em 12 de outubro. Segundo a Constituição da República, "apresentado um projeto de revisão constitucional, quaisquer outros terão de ser apresentados no prazo de trinta dias", devendo o prazo terminar na sexta-feira.
Além do Chega e do PSD, pelo menos PS, Iniciativa Liberal e PAN já indicaram que vão apresentar projetos para alterar a Lei Fundamental.